Tarde Demais…
Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mĂĄgico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
PĂŽs-se o silĂȘncio, em volta, a escutar…Chegaste enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que nĂŁo pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
PĂ©s nus, olhos a rir, a boca em flor!E hĂĄ cem anos que eu fui nova e linda!…
E a minha boca morta grita ainda:
“Por que chegaste tarde, Ă meu Amor?!…”
Sonetos sobre Nus de Florbela Espanca
3 resultadosO Teu Olhar
Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendÔes ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de herĂłis e marinheiros,
Lanças nuas em rĂștilos lampejos;Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Ăndia, a visĂŁo do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!E ao sentir-te tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!
A Voz da TĂlia
Diz-me a tĂlia a cantar: “Eu sou sincera,
Eu sou isto que vĂȘs: o sonho, a graça,
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera…E de manhĂŁ o sol Ă© uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça…
Trago nas mĂŁos as mĂŁos da Primavera…
E é para mim que em noites de desgraçaToca o vento Mozart, triste e solene,
E Ă minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine…”E, ao ver-me triste, a tĂlia murmurou:
“JĂĄ fui um dia poeta como tu…
Ainda hĂĄs de ser tĂlia como eu sou…”