Ă“dio?
Ă“dio por Ele? NĂŁo… Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se Ă vida assim roubei todo o encanto,Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!Ă“dio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ă“dio por Ele? NĂŁo… nĂŁo vale a pena…
Sonetos sobre Olhar de Florbela Espanca
23 resultadosTĂ©dio
Passo pálida e triste. Oiço dizer:
“Que branca que ela Ă©! Parece morta!”
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
NĂŁo tenho um gesto, ou um olhar sequer…Que diga o mundo e a gente o que quiser!
— O que Ă© que isso me faz? O que me importa?…
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!O que é que me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tĂ©dio profundo de viver!E Ă© tudo sempre o mesmo, eternamente…
O mesmo lago plácido, dormente…
E os dias, sempre os mesmos, a correr…
Dizeres ĂŤntimos
É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!E logo vou olhar (com que ansiedade! …)
As minhas mĂŁos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebĂŞs doentes
Que hĂŁo-de morrer em plena mocidade!E ser-se novo Ă© ter-se o ParaĂso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo Ă© luz e graça e riso!E os meus vinte e trĂŞs anos … (Sou tĂŁo nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida! …”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”