Sonetos sobre Tempo de LĂȘdo Ivo

3 resultados
Sonetos de tempo de LĂȘdo Ivo. Leia este e outros sonetos de LĂȘdo Ivo em Poetris.

Acontecimento Do Soneto

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e nĂŁo consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados jĂĄ, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

SĂŽbolos rios que cantando vĂŁo
a lĂ­rica imortal do degredado
que, estando em BabilĂŽnia, quer SiĂŁo,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.

Soneto Dos Vinte Anos

Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.

Passem rios, estrelas, que o passar
Ă© ficar sempre, mesmo se Ă© esquecida
a dor de ao vento vĂȘ-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.

Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que nĂŁo morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.

Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.

Soneto Presunçoso

Que forma luminosa me acompanha
quando, entre o lusco e o fusco, bebo a voz
do meu tempo perdido, e um rio banha
tudo o que caminhei da fonte Ă  foz?

Dos homens desde o berço enfrento a sanha
que os difere da abelha e do albatroz.
Meu irmĂŁo, meu algoz! No perde-e-ganha
quem ganhou, quem perdeu, nĂŁo fomos nĂłs.

O mundo nada pesa. Atlas, sinto
a leveza dos astros nos meus ombros.
Minha alma desatenta Ă© mais pesada.

Quer ganhe ou perca, sou verdade e minto.
Se pergunto, a resposta Ă© dos assombros.
No sol a pino finjo a madrugada.