Sonetos sobre Vida de Ant贸nio Ferreira

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Sonetos de vida de Ant贸nio Ferreira. Leia este e outros sonetos de Ant贸nio Ferreira em Poetris.

Os Dias Conto, e cada Hora, e Momento

Os dias conto, e cada hora, e momento
qu’ alongando-me vou dos meus amores.
Nas 谩rvores, nas pedras, ervas, flores,
parece que acho m谩goa, e sentimento.

As aves que no ar voam, o sol, e o vento,
montes, rios, e gados, e pastores,
as estradas, e os campos, mostram as dores
da minha saudade, e apartamento.

E quanto m’era l谩 doce, e suave,
mais triste, e duro Amor c谩 mo apresenta,
a que entreguei da minha vida a chave.

Em l谩grimas for莽a 茅 qu’ as faces lave,
ou que n茫o sinta a dor que na tormenta
mem贸ria da bonan莽a faz mais grave.

Dos Mais Fermosos Olhos

Dos mais fermosos olhos, mais fermoso
Rosto, que entre n贸s h谩, do mais divino
Lume, mais branca neve, ouro mais fino,
Mais doce fala, riso mais gracioso:

Dum Ang茅lico ar, de um amoroso
Meneio, de um esprito peregrino
Se acendeu em mim o fogo, de que indigno
Me sinto, e tanto mais assi ditoso.

N茫o cabe em mim tal bem-aventuran莽a.
脡 pouco uma alma s贸, pouco uma vida,
Quem tivesse que dar mais a tal fogo!

Contente a alma dos olhos 谩gua lan莽a
Pelo em si mais deter, mas 茅 vencida
Do doce ardor, que n茫o obedece a rogo.

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Se meu desejo s贸 茅 sempre ver-vos,
Que causar谩, senhora, que em vos vendo
Assi me encolho logo, e arrependo,
Que folgaria ent茫o poder esquecer-vos?

Se minha gl贸ria s贸 茅 sempre ter-vos
No pensamento meu, porque em querendo
Cuidar em v贸s, se vai entristecendo?
Nem ousa meu esprito em si deter-vos?

Se por v贸s s贸 a vida estimo, e quero,
Como por v贸s a morte s贸 desejo?
Quem achar谩 em tais contr谩rios meio?

N茫o sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo 茅 amor, entendo, e creio,
E no que entendo, e creio, nisso espero.

Erra a Minha Alma, em Contemplar-vos Tanto

S’erra minh’alma, em contemplar-vos tanto,
E estes meus olhos tristes, em vos ver,
S’erra meu amor grande, em n茫o querer
Crer que outra cousa h谩 ai de mor espanto,

S’erra meu esp铆rito, em levantar seu canto
Em v贸s, e em vosso nome s贸 escrever,
S’erra minha vida, em assim viver
Por v贸s continuamente em dor, e pranto,

S’erra minha esperan莽a, em se enganar
J谩 tantas vezes, e assim enganada
Tornar-se a seus enganos conhecidos,

S’erra meu bom desejo, em confiar
Que algu’hora ser茫o meus males cridos,
V贸s em meus erros s贸 sereis culpada.

Vosso Nome de Amor

Quando entoar come莽o com voz branda
Vosso nome de amor, doce, e suave,
A terra, o mar, vento, 谩gua, flor, folha, ave
Ao brando som se alegra, move, e abranda.

Nem nuvem cobre o c茅u, nem na gente anda
Trabalhoso cuidado, ou peso grave,
Nova cor toma o Sul, ou se erga, ou lave
No claro Tejo, e nova luz nos manda.

Tudo se ri, se alegra, e reverdece.
Todo mundo parece que renova.
Nem h谩 triste planeta, ou dura sorte.

A minh’alma s贸 chora, e se entristece,
Maravilha de Amor cruel, e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.