O Maior Amor e as Coisas que Se Amam
Tomara poder desempenhar-me, sem hesitaçÔes nem ansiedades, deste mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plĂĄtano ou cedro que me cobrisse, levando na alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciĂȘncia de um dever cumprido.
Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligĂȘncia para com o meu senso moral. Hora a hora a (…) que escreve as sĂĄtiras surge colĂ©rica em mim. Hora a hora a expressĂŁo me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mĂŁos inĂșteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que nĂŁo soube contar, um coração jĂĄ apodrecido, morto jĂĄ e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada.
Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pĂĄtria que vĂłs nĂŁo conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n’ela penso. Nada faço. Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pĂĄtria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizĂȘ-lo.
Textos sobre EloquĂȘncia de Fernando Pessoa
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