O Preço do Amor
NĂŁo Ă© fácil estar apaixonado por uma mulher e fazer alguma coisa de jeito. És devorado pela ansiedade. NĂŁo convĂ©m deixares-te embeiçar por uma mulher que se mostre difĂcil de conquistar, isso e como passar o resto da vida a tentar escalar o Everest. Escolhe uma mulher que possas conservar sem muito esforço. Quanto a mulheres boas, podemos comprá-las. Por meia dĂşzia de euros, arranjas uma russa de dezoito anos, dessas que nem nos filmes se veem. Fodes, pagas e regressas a casa para jantar com a famĂlia, com a tua mulher, que cozinha bem e fode mal, mas que nĂŁo lhe passa pela cabeça separar-se de ti, entre outras coisas porque ninguĂ©m a olha com particular interesse. Ela vai Ă s reuniões de pais na escola, controla as AMPAS, as APLAS, todas essas associações que nem sei como se chamam, esses serviços, esse jargĂŁo, esse lixo social-democrata que os do PP copiam com entusiasmo porque soa a famĂlia moderna e feliz, e tambĂ©m um pouco a Opus Dei, e mete os miĂşdos na ordem e sabe escolher o detergente mais eficaz no Mercadona e o melhor queijo e o melhor foie gras de fabrico prĂłprio da charcutaria. Passa-te as camisas a ferro e cose-te os botões.
Textos sobre Filmes de Rafael Chirbes
2 resultadosA Incapacidade de Amar Alguém
Para falar com franqueza, não considero grave a incapacidade de amar alguém. O que significa amar? Na sua maioria, as pessoas coabitam sem necessidade de um sentimento que desconhecem até ao momento em que o leem num romance ou o veem num filme. O facto de, à partida, não sabermos o que é, indica talvez que se trata de algo que não existe dentro de nós, que nos é inculcado, ou que importamos. Se não estou em erro, era um velho filósofo francês que dizia que, quando um homem exprime o muito que ama a senhora marquesa, o muito que aprecia a sua inteligência — como é harmoniosa nos seus movimentos, que ideias tão extraordinárias tem, que sensibilidade tão requintada exibe —, aquilo que realmente quer dizer é que está doido por foder com ela. Julgo que há aà alguma verdade. Confundimos empatia ou compaixão com desejo, julgamos querer acarinhar, proteger, quando na verdade queremos penetrar, violar.