No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade Ă© chato e difĂ­cil mas fazer uma declaração de amor ainda Ă© pior. NinguĂ©m sabe como. NĂŁo hĂĄ minuta. NĂŁo hĂĄ sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declaraçÔes de amor tĂȘm de ser feitas pelo prĂłprio. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada — por muitas declaraçÔes que jĂĄ se tenham feito, cada uma Ă© completamente diferente das anteriores. No amor, aliĂĄs, a experiĂȘncia sĂł demonstra uma coisa: que nĂŁo tem nada que estar a demonstrar coisĂ­ssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa Ă  suprema inocĂȘncia, inĂ©pcia e barbĂĄrie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nĂłs estamos de calçÔes. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incĂȘndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lĂĄ, tu que tens experiĂȘncia de queimaduras do primeiro grau…»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurĂ­culas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrĂ­culos,

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