A MĂĄ ConsciĂȘncia

– Levanta-se sempre muito cedo, sr. Spinell – disse a mulher do sr. Kloterjahn. Por acaso, jĂĄ o vi sair duas ou trĂȘs vezes de casa Ă s sete e meia da manhĂŁ.
– Muito cedo? Oh, Ă© preciso distinguir! Se me levanto cedo Ă© porque, no fundo, gosto de dormir atĂ© tarde.
– Explique-nos como Ă© isso, sr. Spinell
A senhora conselheira Spatz também desejava ser elucidada.
– Ora… se alguĂ©m tem o costume de se levantar cedo, parece-me, em todo o caso, que nĂŁo precisa de ser tĂŁo matinal. A consicĂȘncia, minha senhora, que coisa pĂ©ssima que Ă© a consciĂȘncia! Eu e os meus semelhantes andamos toda a vida Ă s turras com ela, e temos um trabalhĂŁo para a enganarmos de vez em quando e procurar-lhe umas satisfaçÔezinhas estultas. Somos criaturas inĂșteis, eu e os meus semelhantes; fora algumas breves horas satisfatĂłrias, arrastamo-nos na certeza da nossa inutilidade, atĂ© ficarmos a sangrar e doentes. Odiamos o que Ă© Ăștil, sabendo-o vulgar e feio, e defendemos esta verdade como se defendem as verdades absolutamente necessĂĄrias. E, contudo, estamos tĂŁo corroĂ­dos pela nossa mĂĄ consciĂȘncia que nĂŁo achamos em nĂłs um ponto sĂŁo.
Além disso, a maneira como vivemos interiormente,

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