O Outono da Vida

Começa devagarinho. É como tudo. A gente andamos na nossa vida, andamos influĂ­dos e estĂĄ claro que nĂŁo reparamos. De manhĂŁ, temos de pensar no cafĂ©.
Depois, hĂĄ-de vir o almoço. EstĂĄ claro que nem reparamos numa aragem. Mal uma aragem mais fresca que se mistura com o sol-pĂŽr. JĂĄ setembro quer acabar e ainda temos a torrina do sol na pele, a hora do calor, (quase cansada, para a cadela invisĂ­vel) Anda cĂĄ, Ladina… TambĂ©m estĂĄs a ficar velha… Arriba, cadela… (voltando ao tom e Ă  direcção inicial) A gente nem dĂĄ fĂ©. Primeiro, Ă© umas pontadas nas costas, umas sezĂ”es, umas coisas assim. Primeiro, a gente julga que vai passar, como passavam os esfolĂ”es nas pernas quando Ă©ramos pequenos e andĂĄvamos a correr pelas ruas ou quando encontrĂĄvamos alguma ĂĄrvore a jeito de subir. Começa mesmo devagarinho. Aos poucos, (com ternura, para a cadela) Ah, Ladina… Bochinha, bochinha… EntĂŁo, nĂŁo queres vir? Anda cĂĄ, cadela… (voltando Ă  direcção inicial) E as mĂŁos começam a tremer um bocadinho. E o trabalho começa a ser mais custoso. E um dia a gente jĂĄ quase que nĂŁo conhece a nossa cara no espelho no lavatĂłrio. É nesse dia, Ă© nessa hora que começa o outono.

Continue lendo…