Textos sobre Pontos de MarquĂȘs de Vauvenargues

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Textos de pontos de MarquĂȘs de Vauvenargues. Leia este e outros textos de MarquĂȘs de Vauvenargues em Poetris.

O Gosto pela Simplicidade

Cansado Ă s vezes do artificialismo que domina hoje em todos os gĂ©neros, enfadado com os chistes, os lances espirituosos, com as troças e com todo esse espĂ­rito que se quer colocar nas menores coisas, digo comigo mesmo: se eu pudesse encontrar um homem que nĂŁo fosse espirituoso, com quem nĂŁo fosse preciso sĂȘ-lo, um homem ingĂ©nuo e modesto, que falasse somente para se fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração, um homem que sĂł tivesse a razĂŁo e um pouco de naturalidade: com que ardor eu correria para descansar na sua conversa ao invĂ©s do jargĂŁo e dos epigramas do resto dos homens! Como Ă© que acontece perder-se o gosto pela simplicidade a ponto de nĂŁo mais se perceber que ele foi perdido? NĂŁo hĂĄ virtudes nem prazeres que dela nĂŁo retirem encantos e as suas graças mais tocantes.

Da Profundidade do EspĂ­rito

A profundeza Ă© o termo da reflexĂŁo. Quem quer que tenha o espĂ­rito verdadeiramente profundo, deve ter a força de fixar o pensamento fugidio; de retĂȘ-lo sob os olhos para considerar-lhe o fundo, e reduzir a um ponto uma longa cadeia de ideias; Ă© principalmente Ă queles a quem esse espĂ­rito foi dado que a clareza e a justeza sĂŁo necessĂĄrias. Quando lhes faltam essas vantagens, as suas vistas ficam embaraçadas com ilusĂ”es e cobertas de obscuridades. No entanto, como tais espĂ­ritos vĂȘem sempre mais longe do que os outros nas coisas da sua alçada, julgam-se tambĂ©m mais prĂłximos da verdade do que os demais homens; mas estes, nĂŁo os podendo seguir nas suas sendas tenebrosas, nem remontar das consequĂȘncias atĂ© a altura dos princĂ­pios, sĂŁo frios e desdenhosos para com esse tipo de espĂ­rito que nĂŁo podem mensurar.
E, mesmo entre as pessoas profundas, como algumas o sĂŁo em relação Ă s coisas do mundo e outras nas ciĂȘncias ou numa arte particular, preferindo cada qual o objecto cujos usos melhor conhece, isso tambĂ©m Ă©, de todos os lados, matĂ©ria de dissensĂŁo.
Finalmente, nota-se um ciĂșme ainda mais particular entre os espĂ­ritos vivazes e os espĂ­ritos profundos, que sĂł possuem um na falta do outro;

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A Causa da Vontade

A nossa vida nĂŁo passaria de uma sĂ©rie de caprichos, se a nossa vontade se determinasse por si mesma e sem motivos. NĂŁo temos vontade que nĂŁo seja produzida por alguma reflexĂŁo ou por alguma paixĂŁo. Quando levanto a mĂŁo, Ă© para fazer uma experiĂȘncia com a minha liberdade ou por alguma outra razĂŁo. Quando me propĂ”em um jogo de escolha entre par ou Ă­mpar, durante o tempo em que as ideias de um e de outro se sucedem no meu espĂ­rito com rapidez, mescladas de esperança e temor, se escolho par, Ă© porque a necessidade de fazer uma escolha se apresenta ao meu pensamento no momento em que par estĂĄ aĂ­ presente. Proponha-se o exemplo que se quiser, demonstrarei a qualquer homem de boa-fĂ© que nĂŁo temos nenhuma vontade que nĂŁo seja precedida por algum sentimento ou por algum arrazoado que a faz nascer. É verdade que a vontade tem tambĂ©m o poder de excitar as nossas ideias; mas Ă© necessĂĄrio que ela prĂłpria seja antes determinada por alguma causa.
A vontade nĂŁo Ă© nunca o primeiro princĂ­pio das nossas acçÔes, ela Ă© o seu Ășltimo mĂłbil; Ă© o ponteiro que marca as horas num relĂłgio e que o leva a dar as pancadas sonoras.

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