A necessidade de ter razão: sinal de espírito vulgar.
Passagens de Albert Camus
197 resultadosCharme é um meio de obter um sim sem fazer uma pergunta clara.
Essa tristeza era também sua e o aperto que sentia no coração nesse momento era a imensa cólera que surge no homem diante da dor que todos os homens compartilham.
Não há amor generoso senão aquele que se sabe ao mesmo tempo passageiro e singular.
Somos Todos Casos Excepcionais
Somos todos casos excepcionais. Todos queremos apelar de qualquer coisa! Cada qual exige ser inocente, a todo o custo, mesmo que para isso seja preciso inculpar o género humano e o céu. Contentaremos mediocremente um homem, se lhe dermos parabéns pelos esforços graças aos quais se tornou inteligente ou generoso. Pelo contrário, ele rejubilará, se se admirar a sua generosidade natural. Inversamente, se disssermos a um criminoso que o seu crime nada tem com a sua natureza, nem com o seu carácter, mas com infelizes circunstâncias, ele ficar-nos-á violentamente reconhecido. Durante a defesa, escolherá mesmo este momento para chorar. No entanto, não há mérito nenhum em ser-se honesto, nem inteligente, de nascença! Como se não é certamente mais responsável em ser-se criminoso por natureza que em sê-lo devido às circunstâncias. Mas estes patifes querem a absolvição, isto é, a irresponsabilidade, e tiram, sem vergonha, justificações da natureza ou desculpas das circunstâncias, mesmo que sejam contraditórias. O essencial é que sejam inocentes, que as suas virtudes, pela graça do nascimento, não possam ser postas em dúvida, e que os seus crimes, nascidos de uma infelicidade passageria, nunca sejam senão provisórios. Já lhe disse, trata-se de escapar ao julgamento. Como é difícil escapar e melindroso fazer,
A expressão começa onde o pensamento acaba. (p. 114)
A primeira coisa que um bom cientista faz quando está diante de uma descoberta importante e tentar provar que ela esta errada.
Os homens só se convencem das nossas razões, da nossa sinceridade e da gravidade das nossas penas, com a nossa morte. Enquanto vivos, o nosso caso é duvidoso, não temos direito senão ao ceticismo.
Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela.
Se os proxenetas e os ladrões fossem sempre condenados em toda parte, as pessoas de bem, julgar-se-iam todas e incessantemente inocentes.
Todas as revoluções modernas contribuíram para o fortalecimento do Estado.
O homem é a criatura que, para afirmar o seu ser e a sua diferença, nega.
Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.
Abençoados os corações flexíveis; Pois nunca serão partidos.
A amizade pode converter-se em amor. O amor em amizade… nunca.
Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia, poderia sem dificuldades passar 100 anos numa prisão. Teria recordações suficientes para não se entediar. De certo modo, isto era uma vantagem.
Falando do que não se conhece, acabamos por aprender.
A Arte e a Filosofia
Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago. A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas.
Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é uma construção, e todos sabem como os grandes criadores podem ser monótonos. O artista, tal como o pensador, empenha-se e faz-se na sua obra. Essa osmose levanta o mais importante dos problemas estéticos. Além disso,
Fazer as Contas com a Morte
Só há uma liberdade, fazer as contas com a morte. Depois disso, tudo é possível. Não posso forçar-te a crer em Deus. Crer em Deus é aceitar a morte. Quando tiveres aceitado a morte, o problema de Deus ficará resolvido por si – e não o inverso.
Os Intelectuais e as Massas
Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia. Finalmente, os intelectuais utilizam as massas e através deles a teoria utiliza a economia. Por isso é-lhes necessário manter o estado de sítio e a servidão económica – para que as massas continuem a ser massas manobráveis. É bem certo que a economia constitui a matéria da história. As ideias contentam-se com conduzi-la.