Quando as dores são iguais, sentem-se todas; quando uma é maior, suspende as outras.
Passagens de António Vieira
387 resultadosO bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo.
Quem hoje se atreveu ao criado, amanhã se atreverá ao senhor.
Muito mais custa abrir a boca para pedir, que fechá-la para calar.
As coisas grandes não se acabam de repente; hão mister de tempo e todas têm seu tempo.
Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam nem para que o amem, esse só é fino.
Conquistar a terra das três partes do mundo a nações estranhas foi empresa que os reis de Portugal conseguiram muito fácil e muito felizmente, mas repartir três palmos de terra em Portugal aos vassalos, com satisfação deles, foi impossível.
Os inimigos que mais temo a Portugal são soberba e ingratidão, vícios tão naturais da próspera fortuna que, como filhos da víbora, juntamente nascem dela e a corrompem.
A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.
A vida de um homem compõe-se de muitas idades, e o que acontece em qualquer destas idades se diz com toda a propriedade e verdade que acontece nos dias daquele homem.
O Pranto e o Riso
Se o Pranto e o Riso aparecessem neste grande teatro no traje da verdade (sempre nua), sem dúvida seria a vitória do Pranto. Mas vestido, ornado e armado de uma tão superior eloquência, que o Riso se ria do Pranto, não é merecimento, foi sorte. De tudo quanto ri saiu vestido, ornado e armado o Riso: riem-se os prados e saiu vestido de flores: ri-se a Aurora, e saiu ornado de luzes; e se aos relâmpagos e raios chamou a Antiguidade Risus Vestae, et Vulcani, entre tantos relâmpagos, trovões e raios de eloquência, quem não julgará ao miserável Pranto cego, atónito e fulminado? Tal é a fortuna, ou a natureza, destes dois contrários. Por isso nasce o Riso na boca, como eloquente, e o Pranto nos olhos, como mudo.
(…) Demócrito ria sempre: logo nunca ria. A consequência parece difícil e é evidente. O Riso, como dizem todos os Filósofos, nasce da novidade e da admiração e cessando a novidade ou a admiração, cessa também o riso; e como Demócrito se ria dos ordinários desconcertos do mundo, e o que é ordinário e se vê sempre não pode causar admiração nem novidade; segue-se que nunca ria, rindo sempre, pois não havia matéria que motivasse o riso.
O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco.
Quem tem seis asas e voa só com duas, sempre voa e canta. Quem tem duas asas e quer voar com seis, cansará logo e chorará.
O amor em matéria de ausência, se é sofrido, não é grande; se não é impaciente, não é amor.
A razão por que não achamos o descanso é porque o buscamos onde não está.
O ofício e obrigação dos poetas não é dizerem as coisas como foram, mas pintarem-nas como haviam de ser ou como era bem que fossem.
Muito à pressa vive o que tudo quer lograr de uma só vez.
Só a necessidade há-de obrigar à guerra, mas a vontade sempre há-de desejar a paz.
Assim como a obediência é o compêndio e união de todas as virtudes, assim a desobediência é o dispêndio e destruição de todas.
As acções generosas, e não os pais ilustres, são as que fazem fidalgos.