Nunca Competir
Toda a pretensão com oposição prejudica o crédito; a competição tira logo a desdourar, para deslustrar. São poucos os que fazem boa guerra. A emulação descobre os defeitos que a cortesia esqueceu; muitos viveram acreditados enquanto não tiveram adversários. O calor da contestação aviva ou ressuscita infâmias mortas, desenterra hediondezas passadas e antepassadas. Começa a competição com manifestos de desdouros, socorrendo-se de tudo o que pode e não deve; e, ainda que às vezes, e no mais das vezes, as ofensas não sejam armas proveitosas, delas tira vil satisfação para sua vingança, e esta sacode com tais ares que faz saltar pelos desares o pó do esquecimento. Sempre foi pacífica a benevolência e benévola a reputação.
Passagens de Baltasar Gracián
166 resultadosNão há maior vingança do que o esquecimento.
Nenhum país, nem mesmo o mais culto, deixa de ter um defeito peculiar, e tais fraquezas servem de defesa ou consolo às nações vizinhas.
Colocar-se às vezes do lado do outro e analisar os seus motivos ajuda a não condená-lo e a não se justificar a si mesmo com muita facilidade.
Não há sensibilidade sem dor, nem prazer sem sensibilidade.
Em todas as coisas, foge do excesso.
Homens que só a si se amam só de si devem temer-se.
Fazer Depender
Não faz o nome quem o doura, mas quem o adora. O sagaz mais quer necessitados de si que agradecidos. É furtar-se à esperança cortês o fiar-se no agradecimento do vulgo, pois o que aquela tem de memoriosa este tem de esquecidiço. Mais se extrai da dependência que da cortesia; quem está satisfeito dá as costas à fonte, e a laranja espremida cai do ouro ao lodo.
Acabada a dependência, acaba a correspondência, e com ela a estima. Seja lição, e sobretudo de experiência, mantê-la, não a satisfazer, conservando sempre em necessidade de si até o coroado senhor; mas não se há-de chegar ao excesso de calar para que errem, nem de deixar sem remédio o dano alheio para proveito próprio.
Todo excesso constitui um vício.
Quem vive em paz, vive mais tempo.
Aos vinte anos reina a vontade, aos trinta o engenho, aos quarenta o juízo.
Cada um mostra aquilo que é pelos amigos que tem.
Quem confiou os seus segredos a outra pessoa, fez-se escravo dela.
Cada um mostra o que é pelos amigos que tem.
Tolos são todos os que o parecem, e metade dos que não o parecem.
Não passe a vida descontente consigo mesmo, o que é mesquinhez, nem satisfeito, o que seria tolice.
As coisas não são observadas pelo que são, mas pelo que parecem. São raros os que olham por dentro e muitos os que se contentam com as aparências. Não basta ter razão se a ação tem má aparência.
No falar, a discrição importa mais do que a eloquência.
Ter amigos é um segundo ser.
Por maior que seja a tarefa, o que a desempenha deve mostrar uma grandeza ainda maior.