A palavra e o ato vivem em conflito, e este geralmente vence.
Passagens de Carlos Drummond de Andrade
1088 resultadosHá graus de venalidade, como de honradez.
A obra literária deve ser sempre melhor do que o autor.
Desejo a você: Namoro no portão, Domingo sem chuva, Segunda sem mau humor, Sábado com seu amor…
O anonimato combina o prazer da vilania com a virtude da discrição.
As revoluções são periódicas, o que lhes tira a eficácia.
E cada instante e diferente, e cada homem é diferente, e somos todos iguais. No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra o silêncio global, mas não seja logo.
O verso é uma vitória sobre os limites da linguagem.
Perdoa teus amigos se quiseres ser perdoado por eles.
Amor e seu tempo… Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. Amor começa tarde.
Cultivamos nossas dúvidas como rosas do jardim que não possuímos.
Os métodos modernos de negócio tornaram obsoleta a antropofagia.
O fuzilamento dá ensejo a que vários atiradores cometam o mesmo crime com a consciência limpa.
Viver
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Não é difícil admirar o progresso quando ele age em silêncio.
Procura-se um fim para a existência, cujo começo se ignora.
Nossas alucinações são alegorias da realidade.
O Inseguro
A eterna canção: Que fiz durante o ano, que deixei de fazer, por que perdi tanto tempo cuidando de aproveitá-lo? Ah, se eu tivesse sido menos apressado! Se parasse meia hora por dia para não fazer absolutamente nada — quer dizer, para sentir que não estava fazendo coisas de programa, sem cor nem sabor. Aí, a fantasia galopava, e eu me reencontraria como gostava de ser; como seria, se eu me deixasse…
Não culpo os outros. Os outros fazem comigo o que eu consinto que eles façam, dispersando-me. Aquilo que eu lhes peço para fazerem: não me deixarem ser eu-um. Nem foi preciso rogar-lhes de boca. Adivinharam. Claro que eu queria é sair com eles por aí, fugindo de mim como se foge de um chato. Mas não foi essa a dissipação maior. No trabalho é que me perdi completamente de mim, tornando-me meu próprio computador. Sem deixar faixa livre para nenhum ato gratuito. Na programação implacável, só omiti um dado: a vida.Que sentimento tive da vida, este ano? Que escavação tentei em suas jazidas? A que profundidade cheguei? Substituí a noção de profundidade pela de altura. Não quis saber de minerações. Cravei os olhos no espaço,
Os feriados dão oportunidade a que os patriotas deixem de se preocupar com a pátria.
As palavras fogem quando precisamos delas e sobram quando não pretendemos usá-las.