O país excessivamente grande perde a noção de grandeza e resigna-se a ser dirigido por homens pequenos.
Passagens de Carlos Drummond de Andrade
1088 resultadosOs condenados à vida aprovam ou repelem a pena de morte, conforme o temperamento.
Esse minúsculo ponto do sexo feminino, em torno do qual gira a máquina do mundo.
Mantemos reserva para com o desconhecido, esquecendo que não nos conhecemos a nós mesmos.
São tantos órgãos a defender a cultura que ela acaba esmagada pela massa de defensores.
Condenamos a crueldade alheia sem indagar se, em situação idêntica, não faríamos a mesma coisa.
A beleza, dom dos deuses, é breve, porque os deuses logo o confiscam.
Quanto mais aprendo, menos vivo.
Ninguém está preparado para morrer, mas isto não faz diferença; morre-se assim mesmo.
O pênis, caçador que às vezes nega fogo diante da caça.
A língua do enforcado continua falando coisas que não entendemos.
A história recente ainda não é História, porque a presenciamos, e a antiga também não, porque não a testemunhamos.
A chuva é igualmente responsável por gripes e poemas lacrimejantes.
Dois Rumos
Mentir, eis o problema:
minto de vez em quando
ou sempre, por sistema?Se mentir todo dia,
erguerei um castelo
em alta serraniacontra toda escalada,
e mais ninguém no mundo
me atira seta ervada?Livre estarei, e dentro
de mim outra verdade
rebrilhará no centro?Ou mentirei apenas
no varejo da vida,
sem alívio de penas,sem suporte e armadura
ante o império dos grandes,
frágil, frágil criatura?Pensarei ainda nisto.
Por enquanto não sei
se me exponho ou resisto,se componho um casulo
e nele me agasalho,
tornando o resto nulo,ou adiro à suposta
verdade contingente
que, de verdade, mente.
Perdoar antes é melhor do que perdoar depois.
O mau cheiro é um perfume falsificado que faz questão de aparecer como autêntico.
A dor nova, diferente das experimentadas, prova que o aprendizado é infinito.
Enganamos aos outros, porém não tanto quanto a nós mesmos.
O caluniador lança uma hipótese de trabalho que às vezes é aproveitada.
Quem é desmemoriado, ou nada tem para contar, escreve as memórias dos outros.