Cada idade tem os seus humores, os seus gostos e os seus prazeres,
E, como a nossa pele, embranquece os nossos desejos.
Passagens sobre Humor
131 resultadosO Homem – Um Ser Egoísta
O motor principal e fundamental no homem, bem como nos animais, é o egoísmo, ou seja, o impulso à existência e ao bem-estar. […] Na verdade, tanto nos animais quanto nos seres humanos, o egoísmo chega a ser idêntico, pois em ambos une-se perfeitamente ao seu âmago e à sua essência.
Desse modo, todas as acções dos homens e dos animais surgem, em regra, do egoísmo, e a ele também se atribui sempre a tentativa de explicar uma determinada acção. Nas suas acções baseia-se também, em geral, o cálculo de todos os meios pelos quais procura-se dirigir os seres humanos a um objectivo. Por natureza, o egoísmo é ilimitado: o homem quer conservar a sua existência utilizando qualquer meio ao seu alcance, quer ficar totalmente livre das dores que também incluem a falta e a privação, quer a maior quantidade possível de bem-estar e todo o prazer de que for capaz, e chega até mesmo a tentar desenvolver em si mesmo, quando possível, novas capacidades de deleite. Tudo o que se opõe ao ímpeto do seu egoísmo provoca o seu mau humor, a sua ira e o seu ódio: ele tentará aniquilá-lo como a um inimigo. Quer possivelmente desfrutar de tudo e possuir tudo;
O Terror como Base da Religião
É verdade que tanto o medo como a esperança entram na religião, porque estas duas paixões, em alturas diferentes, agitam a mente humana e cada uma delas forma uma espécie de divindade que lhe é adequada. Mas, quando um homem se sente bem, ele está inclinado para os negócios, para o convívio ou para qualquer espécie de divertimento, e dedica-se naturalmente a essas actividades e não pensa em religião. Quando está melancólico e abatido, tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do mundo invisível, e mergulhar mais profundamente ainda na aflição. Pode realmente acontecer que, após ter assim gravado profundamente as opiniões religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma alteração da saúde ou das circunstâncias que restaure o seu bom humor e, ocasionando boas perspectivas de futuro, o faça cair no extremo oposto da alegria e triunfo. Mas, ainda assim deve reconhecer-se que, como o terror é o princípio primordial da religião, é essa a paixão que predomina nela e que só admite pequenos intervalos de prazer.
Há mais defeitos no humor que no espírito.
Amor com Humor
O que faz falta a muitas relações não é amor; é humor.
Humor verdadeiro, humor real. Humor transformador. O nosso humor. Somos amaristas ou humantes, uma qualquer mistura entre amante e humorista. Andamos pelas horas assim, a brincar ao equilíbrio. Ora dizemos uma piada sobre o beijo perfeito ora beijamos o beijo perfeito.
Temos de ser cómicos para nos amarmos bem.
Há amores que não sobrevivem sem humor. Todos.
O nosso faz stand-up a toda a hora. Levanta-se e faz-nos rir. Rimo-nos de nós. Sobretudo de nós. Também dos outros, claro. Por vezes somos mauzinhos, por vezes somos cruéis. Fazemos humor negro e nem assim nos deixamos cair no escuro.
Sei perfeitamente que o destino me reserva bem duras provas. Mas, coragem! Com bom humor tudo se suporta… Com bom humor!
A Justa Medida do Esforço do Prazer
Os sábios bem ensinam a nos precavermos contra a traição dos nossos apetities e a discernir entre os prazeres verdadeiros e integrais e os prazeres díspares e mesclados com mais trabalhos. Pois a maioria dos prazeres, dizem eles, excitam e abraçam para nos estrangular (…). E, se a dor de cabeça nos viesse antes da embriaguez, evitaríamos beber demais. Mas a volúpia, para nos enganar, caminha à frente e oculta-nos o seu séquito. Os livros são aprazíveis; mas, se por frequentá-los perdemos afinal a alegria e a saúde, que são as nossas melhores partes, abandonemo-los. Sou dos que julgam que o seu fruto não pode contrabalançar essa perda. Como os homens que há longo tempo se sentem enfraquecidos por alguma indisposição se entregam por fim à mercê da medicina e deixam que lhes estabeleça artificialmente certas regras de viver para não mais ultrapassá-las, assim também aquele que se isola, entediado e desgostoso da vida em comum, deve conformar esta às regras da razão, deve organizá-la e ordená-la com premeditação e reflexão.
Deve dizer adeus a toda a espécie de esforço, sob qualquer aparência que se apresente; e fugir em geral das paixões que impedem a tranquilidade do corpo e da alma,
O bom humor é a única qualidade divina do homem.
A Cultura Portuguesa e o Provincianismo
A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo. O provincianismo é a forma mais «engagée» de existir socialmente e literariamente. Daí a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer um realismo a sério, porquanto este exige uma descida ao inferno e não vejo por aí quem se atreva além do purgatório. Fica-se assim na meia tinta do naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana onde, além da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e não pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violência de se estar no mundo. Provincianismo chama-se ainda àquela nossa atitude que toma muito a sério ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela incomplacente investida de um humor cruel. Houve recentes tentativas queirozianas para denunciar as fraquezas do meio. Conseguiu-se fazer realismo desta vez? Também não, porque se fez realismo de empréstimo, de segunda mão, colhido no «diz-se diz-se» das esquinas. Escreveu-se razoavelmente má-língua, mas não se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visível o lodo depositado no fundo. Isto quanto aos que fazem profissão de fé de realismo social ou burguês.
O bom humor é incompatível com a crueldade.
É falta de polidez dar de mau humor; o mais difícil e mais penoso é dar; que custa acrescentar a isso um sorriso?
Antes de mais nada fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor
O céu criou a mulher para conter a fermentação da nossa alma, para dulcificar os nossos desgostos e o nosso mau humor, e para nos tomar melhores.
Apreciação Imparcial
Há poucos indivíduos a quem é dado contemplar uma obra de arte como espectadores tranquilos; mas é difícil encontrar um que seja capaz ou tenha a vontade, ao mesmo tempo que deixa a obra penetrá-lo, e escuta as suas impressões ou as palavras de outro, de permanecer simples observador. Sem se dar conta disso, torna-se crítico, procurando mostrar a sua força de juízo, exercer o seu humor e avaliar a sua própria pessoa.
O ingénuo fá-lo inicialmente, é certo, sem a menor intenção malévola; mas mesmo nele, as propriedades naturais do indivíduo não tardam a impôr os seus direitos – vaidade e pedantice, desejo de ser superior aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros – de tal modo que depressa estará mais decidido a desvelar as fraquezas de uma obra do que a aceitar os seus lados positivos.
A Devida Educação
Das coisas que mais custa ver é uma pessoa inteligente e criativa, quando nos está a contar uma opinião ou um acontecimento, ser diminuída pela falta de vocabulário – ou de outra coisa facilmente aprendida pela educação.
A distribuição humana de inteligência, graça, sensibilidade, sentido de humor, originalidade de pensamento e capacidade de expressão é independente da educação ou do grau de instrução. Em Portugal e, ainda mais, no mundo, onde as oportunidades de educação são muito mais desiguais, logo injustamente, distribuídas, é não só uma tragédia como um roubo.
Rouba-se mais aos que não falam nem escrevem com os meios técnicos de que precisam. Mas também são roubados aqueles, adequadamente educados, que não podem ouvir ou ler os milhões de pessoas que só não conseguem dizer plenamente o que querem, porque não têm as ferramentas que têm as pessoas mais novas, com mais sorte.
Mete nojo a ideia de a educação ser uma coisa que se dá. Que o Estado ou o patrão oferece. Não é assim. A educação, de Platão para a frente, é mais uma coisa que se tira. Não educar é negativamente positivo: é como vendar os olhos ou cortar a língua.
O meu pai,
Humor é rir do que você não obteve quando deveria tê-lo obtido.
A Política ao Sabor dos Humores Pessoais e Colectivos
Bem quero, mas não consigo alhear-me da comédia democrática que substituiu a tragédia autocrática no palco do país. Só nós! Dá vontade de chorar, ver tanta irreflexão. Não aprendemos nenhuma lição política, por mais eloquente que seja. Cinquenta anos a suspirar sem glória pelo fim de um jugo humilhante, e quando temos a oportunidade de ser verdadeiramente livres escravizamo-nos às nossas obsessões. Ninguém aqui entende outra voz que não seja a dos seus humores.
É humoralmente que elegemos, que legislamos, que governamos. E somos uma comunidade de solidões impulsivas a todos os níveis da cidadania. Com oitocentos anos de História, parecemos crianças sociais. Jogamos às escondidas nos corredores das instituições.
Há tantos cristãos de enterro, cuja vida parece um contínuo funeral! Preferem a tristeza à alegria; estão mais à vontade nas sombras, como os morcegos! E com um pouco de sentido de humor podemos dizer que são «cristãos-morcegos», que preferem as sombras à luz da presença do Senhor.
A Arte de Viver, pela Fantasia
A fantasia é a mãe da satisfação, do humor, da arte de viver. Apenas floresce alicerçada num íntimo entendimento entre o ser humano e aquilo que objectivamente o rodeia. Esse ambiente envolvente não tem de ser belo, singular ou sequer encantador. Basta que tenhamos tempo para a ele nos habituarmos, e é sobretudo isso que hoje em dia nos falta.
Todos os dias me rio um bocado. Se o humor é uma visão do mundo, mais do que um estado de espírito, então é isso que eu quero ter: uma visão do mundo. E rio-me. Rio-me das idiossincrasias de um empregado de café e da mímica de um palhaço na televisão. Rio-me de uma história plena de agudeza ou apenas de uma torneira que pinga. Rio-me – rio-me muito.