Passagens sobre Esqueleto

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Somos uma Turba e Ninguém

Somos uma turba e ninguĂ©m: um ninguĂ©m que vive, porque Ă© sangue e carne, e existe porque Ă© esqueleto ou pedra; e uma turba da espectros que nos acompanha desde a Origem, e Ă© a nossa mesma pessoa multiplicada em mil tendĂŞncias incoerentes, forças contraditĂłrias, em vários sentidos ignotos… E lá vamos, a tactear as trevas, ladeando, avançando, recuando, como pobres jumentos aflitos e Ă s escuras, sob as esporas que o espicaçam para a frente e as rĂ©deas que o puxam para trás.
Pobres jumentos aflitos e às escuras! Escouceiam, orneiam, levantam a garupa. De que serve? As patas ferem o ar e aquela voz de soluços, que faz rir, não chega ao céu.
(…) Deus, criando as almas, condenou-as Ă  suprema solidĂŁo. Algumas iludem a pena. Imaginam conviver com as árvores e os penedos. Falam Ă s árvores e aos penedos, queixando-se dos seus desgostos. (…) Somos uma turba e ninguĂ©m. Somos Deus e o DemĂłnio, o CĂ©u e a Terra e outras letras grandes e NinguĂ©m.

Em relação ao que foi outrora, nossa terra transformou-se num esqueleto de um corpo descarnado pela doença. As partes gordas e macias desapareceram e tudo que resta é carcaça nua.

RuĂ­na

Sem encontrar-se.
Viajante pelo seu prĂłprio torso branco.
Assim ia o ar.

Logo se viu que a lua
era uma caveira de cavalo
e o ar uma maçã escura.

Detrás da janela,
com látegos e luzes se sentia
a luta da areia contra a água.

Eu vi chegarem as ervas
e lhes lancei um cordeiro que balia
sob seus dentezinhos e lancetas.

Voava dentro de uma gota
a casca de pluma e celulĂłide
da primeira pomba.

As nuvens, em manada,
ficaram adormecidas contemplando
o duelo das rochas contra a aurora.

VĂŞm as ervas, filho;
já soam suas espadas de saliva
pelo céu vazio.

Minha mĂŁo, amor. As ervas!
Pelos cristais partidos da morada
o sangue desatou suas cabeleiras.

Tu somente e eu ficamos;
prepara teu esqueleto para o ar.
Eu sĂł e tu ficamos.

Prepara teu esqueleto;
Ă© preciso ir buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sonho.

A Vida como Luta entre a Realidade e o Sonho

Somos um sonho divino que nĂŁo se condensou, por completo, dentro dos nossos limites materiais. Existe, em nĂłs, um limbo interior; um vago sentimental e original que nos dá a faculdade mitolĂłgica de idealizar todas as coisas. (…) Se fĂ´ssemos um ser definido, serĂ­amos entĂŁo um ser perfeito, mas limitado, materializado como as pedras. SerĂ­amos uma estátua divina, mas nĂŁo poderĂ­amos atingir a Divindade. SerĂ­amos uma obra de arte e nĂŁo vivente criatura, pois a vida Ă© um excesso, um Ă­mpeto para alĂ©m, uma força imaterial, indefinida, a alma, a imperfeição.
A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até à suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho, a Carne e o Verbo.
Entre nĂłs, o Verbo nĂŁo encarnou inteiramente. Somos corpo e alma, verbo encarnado e verbo nĂŁo encarnado, a matĂ©ria e o limbo, o esqueleto de pedra e um fumo que o enconbre e ondula em volta dele, e dança aos ventos da loucura…
E aĂ­ tendes um pobre tolo sentimental, uma caricatura elegĂ­aca.
Neste limbo interior, neste infinito espiritual, vive a lembrança de Deus que alimenta a nossa esperança,

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O Soneto

Nas formas voluptuosas o soneto
Tem fascinante, cálida fragrância
E as leves, langues curvas de elegância
De extravagante e mĂłrbido esqueleto.

A graça nobre e grave do quarteto
Recebe a original intolerância,
Toda a sutil, secreta extravagância
Que transborda terceto por terceto.

E como um singular polichinelo
Ondula, ondeia, curioso e belo,
O Soneto , nas formas caprichosas.

As rimas dĂŁo-lhe a pĂşrpura vetusta
E nas mais rara procissĂŁo augusta
Surge o Sonho das almas dolorosas…

VolĂşpia Imortal

Cuidas que o genesĂ­aco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!

NĂŁo! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!

Surdos destarte a apĂłstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descamados,
Em convulsivas contorções sensuais,

Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volĂşpia das ossadas novas
HĂŁo de ainda se apertar cada vez mais!

Sentimento do Tempo

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, trĂŞs ossos repousavam
Mas há imagens que não podia explicar; me ultrapassavam.
As lágrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer porque deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.
Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais nĂŁo souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
E um coração ardente em coisa fria.
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde sĂł existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas não sei ver coisas mais simples como a água.
Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se nĂŁo houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.

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