Meu coração é ruína
Caindo todo a pedaços,
Oh, dai-lhe a hera piedosa
Bendita desses teus braços!
Frases Exclamativas de Florbela Espanca
103 resultadosQuando um peito amargurado
Adora seja quem for,
Por muito infame que seja
Bendito seja esse amor!
É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de cobardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!
Tanta coisa bonita que me tem dito e como eu gosto que os amigos – mas só os amigos… – me digam coisas assim bonitas!
Desde que o meu bem partiu
Parecem outras as cousas;
Até as pedras da rua
Têm aspecto de lousas!Quando por acaso as piso,
Perturba-me um tal mistério!…
Como se pisasse à noite
As pedras dum cemitério…
Os males do mundo toda a gente sabe! Os meus ninguém
Não sei se tens reparado
Quando passeia, o luar
Pára sempre à tua porta
E encosta-se a chorar;E eu que passo também
Na minha mágoa a cismar
Paro junto dele, e ficamos
Abraçados a chorar!
Escreve-me! Ainda que seja só Uma palavra, uma palavra apenas, Suave como o teu nome e casta Como um perfume casto d’açucenas!
Os meus males ninguém mos adivinha… A minha Dor não fala, anda sozinha… Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!… Os males de Anto toda a gente sabe! Os meus… ninguém… A minha Dor não cabe nos cem milhões de versos que eu fizera!…
Quem me dera um coração
Que por mim bata somente.
Dai-me essa esmola, Senhor,
Para que eu morra contente!
Eu tecerei uns sonhos irreais… Como essa mãe que viu o filho partir; como esse filho que não voltou mais!
Lembra-te que o tempo tudo consome. E se assim não fosse, o que seria a nossa vida!? Um ermo cemitério em que cada cruz representaria um morto sempre vivo! Completamente impossível! Se o tempo consome o corpo dos que morrem, como não consumir a lembrança deles? E se assim não fosse, que vida seria a nossa!? Deus, dando-nos a dor, deu-nos também o esquecimento…
Se as minhas mãos em garra se cravassem sobre um amor em sangue a palpitar… Quantas panteras bárbaras mataram só pelo raro gosto de matar!
Abaixo sempre os meus olhos
Quando encontro o teu olhar;
De ver o sol de frente
Ninguém se pode gabar!
São sempre os que eu recordo que me esquecem… Mas digo para mim: «não me merecem». E já não fico tão abandonada! Sinto que valho mais, mais pobrezinha: que também é orgulho ser sozinha, e também é nobreza não ter nada!
Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas prendeu da vida, assim como ninguém, os maus espinhos sem tocar nas rosas.
Tu julgas então que eu ambiciono alguma coisa no mundo? Ainda me conheces pouco! Eu fatigo-me até de desejar; nada há neste mundo que me não tenha cansado! Eu mais que ninguém compreendo o poeta: «Tout passe, tout lasse». E ainda tu julgas que eu me preocupo a desejar sucesso aos meus versos patetas!?… Se eu desejasse alguma coisa que deles me viesse, não trabalhava!
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades… sei lá de quê!
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!
Estou tão magrita! A lâmina vai corroendo a bainha, a pouco e pouco, mas implacavelmente, com segurança. Devo ter por alma um diamante ou uma labareda e sinto nela a beleza inquietante e misteriosa das obras incompletas ou mutiladas.