Frases de Miguel Torga

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Frases de Miguel Torga. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, que a morte remata.

Os escritores em Portugal são como as raparigas feias nos bailes: Passam a noite a sonhar com os mil admiradores que poderiam ter, e a contar pelos dedos os heróis que na realidade as tiram para dançar.

Há livros que são no mundo como almas penadas. Andam, andam, tropeçam através de séculos pela obscuridade e pelo sofrimento, até que um dia apareça alguém que os tire do limbo do esquecimento. E isto, parecendo que não, dá esperança…

É urgente acabar com a hipocrisia do mundo moderno e regressar à sinceridade grega: ser conviva dum banquete universal, e fazer por pensar bem durante ele.

Hoje declarei em casa de uns amigos que a maior prova de amor que um poeta pode dar a uma mulher é a sua intimidade. Escrever versos diante dela é qualquer coisa como parir com um Cristo à cabeceira da cama.

Creio que a vida não tem sombra de interesse, concebida e vivida em termos de mentira e de conveniência. As sociedades que já só assentam em tais fundamentos, estão por pouco. Julgo, antes, que a própria natureza aviva de quando em quando as suas arestas para que os seres e as coisas saibam claramente que a cada verdade corresponde um fruto, e a cada mentira uma desilusão.

Não há pensamento onde não há liberdade. Os nossos oito séculos de opressão e de intolerância deram isto: um povo cujos intelectuais raciocinam sempre a fazer figas.

Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria matar a sede com água salgada.

Vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso.

O mal de quem apaga as estrelas é não se lembrar de que não é com candeias que se ilumina a vida.

A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi.

Muito grande e muito belo é um homem quando se despe e se mostra todo! O que nos degrada, diminui e apouca, não é sermos pequenos; é não termos dos nossos defeitos a consciência inteira. Sermos somíticos e não nos apercebermos disso; sermos burros, e não darmos conta; gostarmos da «Viúva Alegre», e andarmos convencidos de que gostamos de Stravinski.

Em termos absolutos, o homem é um valor imponderável, inteiro e perfeito como um dogma. Mas em termos relativos, sociais, o homem é o que vale para os seus semelhantes. E é na contradição de medida que vai de próximo a próximo que consiste o drama de ninguém conseguir ser ao mesmo tempo amado em Tebas e Atenas.

Liberdade é disciplina, consciência e auto-limitação. (…) Mas vamos juntar-lhe actualidade, técnica, e um conceito mais humano e dialéctico de encarar os problemas. Teremos a nossa ordem, que não há-de precisar de pistolas da ordenança, e teremos as nossas realizações. Desejamos coisas simples e possíveis.