Frases sobre Mundo de José Luís Peixoto

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Frases de mundo de José Luís Peixoto. As mais belas frases e mensagens de José Luís Peixoto para ler e compartilhar.

Podemos ter muitas palavras para dizer uma coisa que aparentemente Ă© a mesma, mas a verdade Ă© que cada um a diz de uma forma diferente. É por isso que as possibilidades de reprodução do mundo pelas palavras sĂŁo tantas.

HĂĄ tantos mundos quantas as maneiras de o olhar e, por consequĂȘncia, de o entender. Isto Ă© muito evidente quando regresso ao meu quarto de infĂąncia e adolescĂȘncia, aquele onde, com catorze anos, me deitava a pensar, a imaginar. Hoje, se me deito nessa cama, nĂŁo tenho o mesmo tempo. Se me aproximo da janela e olho a paisagem, aquilo que vejo mudou, mudei eu.

No mundo inteiro, por todos os cantos da terra, hĂĄ tantas maneiras, tantos feitios e, mesmo assim, nĂŁo hĂĄ quem exista isento de dor. Procurando, todos encontram ao menos uma queixa.

Desistir, como morrer, nĂŁo Ă© sempre mau. HĂĄ vezes em que nĂŁo se pode evitar. Todos nos dizem continua, continua, mas Ă© o mundo que desiste, inteiro, Ă  nossa volta.

Assistirmos ao sofrimento do nosso filho Ă© estarmos em carne viva por dentro, Ă© nĂŁo termos pele, Ă© um incĂȘndio a arder no mundo inteiro, mesmo no mundo inteiro. E cada som do nosso filho a sofrer Ă© silĂȘncio em brasa, Ă© a cabeça cheia de silĂȘncio em brasa, o peito cheio, incandescente, o mundo inteiro em brasa.

Eu confio nas pontas de sensibilidade que me crescem da aura, meu contorno. SĂŁo elas que tocam na superfĂ­cie dos materiais e a transmitem ao meu modo, fazendo-o quase infinito de tĂŁo grande. Um, uma, unidade compacta, o mundo feito de mim e vice-versa.

Se a lógica explicasse tudo, a felicidade poderia ser calculada. A lógica é sempre o mais fåcil, é sempre o caminho mais simples. Infelizmente, o mundo não se compadece com essas invençÔes.

As ideias envelhecem dentro dos livros, da mesma forma que envelhecem dentro da cabeça. Na cabeça, antes do mundo, e nos livros, depois do mundo, as ideias podem envelhecer e morrer ou, tantas vezes, podem envelhecer e só nesse momento serem reconhecidas como ideias, só nesse momento nascerem de facto.

Os homens são uma parte pequena do mundo, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem e as razÔes imediatas do que fazem, mas saber isso é saber o que estå à vista, é não saber nada. Penso: talvez os homens existam e sejam, e talvez para isso não haja qualquer explicação; talvez os homens sejam pedaços de caos sobre a desordem que encerram, e talvez seja isso que os explique.

Existe aquele tempo parado. Aquela dor que não tem nome. Todos os dias entramos e saímos por portas, todos os dias respiramos, todos os dias erguemos a memória do mundo: manhãs de sol. Às vezes, duvidamos do tempo. Sabemos rir. Tentamos planos como crianças que dão os primeiros passos.

Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca ĂĄrvores pelas raĂ­zes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atravĂ©s desse grito, Ă  sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim prĂłprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencĂȘ-lo mais uma vez e sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força Ă© imortal.

O mundo dĂĄ a inocĂȘncia por momentos. O mundo leva a inocĂȘncia consigo, como um barco que se afasta cada vez mais do sĂ­tio de onde partiu. A inocĂȘncia fica lĂĄ longe.

HĂĄ demasiadas pessoas no mundo a partilharem uma cama e um nĂșmero incontĂĄvel de ressentimentos. HĂĄ demasiadas pessoas no mundo a mentirem a si prĂłprias e a discutirem Ă  frente dos filhos.

Muito daquilo que recebes serå devolvido ao mundo através daquilo que fores capaz de exprimir. Depois do pensamento, as palavras. Aquilo que souberes serå aquilo que dirås.

O silĂȘncio Ă© como a recordação da mĂŁe para um ĂłrfĂŁo. O silĂȘncio Ă© como a recordação da mĂŁe para qualquer filho. O mundo Ă© pĂĄlido perante o silĂȘncio.

O espelho do nosso prĂłprio olhar serve sobretudo para nĂłs. É o mundo que tem a capacidade de nos definir. NĂłs definimo-lo a ele e, justiça simĂ©trica, ele define-nos a nĂłs.

Não são as palavras que distorcem o mundo, é o medo e a vontade. As palavras são corpos transparentes, à espera de uma cor. O medo é a lembrança de uma dor do passado. A vontade é a crença num sonho do futuro. Não são as palavras que distorcem o mundo, é a maneira como entendemos o tempo, somos nós.