Frases sobre Vez de Florbela Espanca

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Frases de vez de Florbela Espanca. As mais belas frases e mensagens de Florbela Espanca para ler e compartilhar.

Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive…

Se todos tivessem pelos bichos a simpatia que eu tenho, toda a gente se empregaria em tratá-los bem, como eles às vezes merecem bem mais do que as pessoas. De pessoas é que eu não gosto; e eu que não ligo importância a uma criança, enterneço-me vendo uma lagarta rastejar.

As sensações fortes entontecem-me e fazem-me sofrer. A nossa vida neste velho Portugal, vida toda de resignação e sentimentalidade, vida estreita e mesquinha, sem horizontes nem ondas largas, convém mais a uma velhota de 27 anos que vive pela imaginação mais do que tu podes imaginar; na minha cadeira da Ilha, com um livro que me encanta sobre o regaço eu viajo, às vezes, mais do que os maiores vagabundos, pelo mundo fora.

Deixe-me dizer-lhe pela última vez que eu não tenho recordações. Ninguém guarda lembranças do que profundamente despreza.

A alma do homem, tão insignificante, sente-se às vezes ultrapassar o mistério infinito da própria existência e procura ansiosa um infinito maior ainda, onde perder-se; é nessas horas que o homem se sente perdoado do nefando crime de ser homem.

Eu de tudo me aborreço, não te confessei já? Entusiasmo-me às vezes, mas dura pouco o entusiasmo; isto quanto a sensações e pensamentos, porque com os sentimentos é o contrário, infelizmente para mim.

A paciência é uma bela virtude muito da minha simpatia, se bem que pouco das minhas relações… Às vezes em 15 dias perde-se para sempre a felicidade ou pelo menos a ocasião dela.

Tenho dois livros: um de prosa, outro de versos, na gaveta, onde provavelmente ficarão todo o resto da minha vida, pois a minha incapacidade perante a vida prática é cada vez maior, e a minha triste qualidade de inadaptável é cada vez mais forte.

Os mortos não voltam, e é melhor que assim seja… Que vergonha se voltassem! Onde há por aí uma alma de vivo que se tivesse mantido digna de semelhante prodígio?… Eles vão, e a gente fica, e ri, e canta, e deseja, e continua a viver! Mutilados, amputados, às vezes do melhor de nós mesmos, a gente é como estes vermes repugnantes que, cortados aos pedaços, criam novas células, completam-se e continuam a rastejar e a viver! É uma miséria, é, mas é assim!

A poesia não comporta gralhas como a prosa, que às vezes até fica melhor… É coisa tão delicada que só vive de ritmo e de harmonia. Quase dispensa as ideias. Quem lhe tocar, assassina-a sem piedade.

Os meus amigos dizem-me que sou uma insuportável orgulhosa, e é à viva força que me arrancam da gaveta, para os lançar às feras, como eu costumo dizer, os meus versos que são um pouco de mim mesma, e agora a minha prosa que, a dar-lhes ouvidos, seria a oitava maravilha do mundo! Resignei-me de vez e, presentemente, estou decidida a enveredar pelo caminho da “escrevinhação”, já que para outra coisa não me sinto apta neste mundo.

Muitas vezes as nossas mais delicadas atenções, as nossas maiores provas de amor, os nossos cuidados são como aquelas pérolas que um dia alguém atirou a uns porcos…

Entusiasmo-me às vezes, mas dura pouco o entusiasmo; isto enquanto a sensações e pensamentos, porque com os sentimentos é o contrário, infelizmente para mim. Tenho o pouco juízo e a patetice de ser constante; não é isso uma desgraça?

Faço às vezes o gesto de quem segura um filho ao colo. Um filho, um filho de carne e osso, não me interessaria talvez, agora… mas sorrio a este, que é apenas amor nos meus braços.

Às vezes sinto em mim uma elevação de alma, o voo translúcido duma emoção em que pressinto um pouco do segredo da suprema e eterna beleza; esqueço a minha miserável condição humana, e sinto-me nobre e grande como um morto.

Sou egoísta? Serei, mas como eu sou sincera! No Mundo, passo por todos, vendo alguns; na vida, esqueço-me de quase todos, esquecendo-me de mim. Quase tudo me é indiferente. Aqueles com quem lido dão-me às vezes a ideia de sombras, de fantasmas, de manequins, não me parecem iguais a mim, e tenho às vezes a impressão de que toda essa gente que passa por mim nas ruas, vai desaparecer como figurantes de mágicas.

A dor dos pobres é resignada e calma; traz às vezes consigo as aparências da revolta, mas, no fundo, é cheia dum imenso, dum infinito desapego por tudo. Os pobres vêm ao mundo já sem nada; o pouco que a vida lhes deixa é emprestado. Que lhes hão-de tirar que seja deles?! Aos pobres toda a gente chama desgraçados.

Que heroínas somos nós às vezes! E que covardes!… Esmagam-nos e nós rimos; fazem-nos desgraças e nós cantamos! Mas que risos… mas que canções! Risos que são lágrimas, canções que são soluços… e os olhos húmidos são para o mundo olhos que falam de amor, e as boas contraídas são, para todos, bocas que riem às gargalhadas! E assim se escreve a história… e assim decorre a vida…