O incĂȘndio provocado Ă© criminoso; o espontĂąneo Ă© obra de arte.
Passagens sobre IncĂȘndio
48 resultadosĂ Fragilidade da Vida Humana
Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.Esse nåcar em cinzas desatado
Foi vistoso pavĂŁo de Abril florido;
Esse estio em vesĂșvios encendido
Foi ZĂ©firo suave em doce agrado.Se a nau, o sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,Olha, cego imortal, e considera
Que Ă©s rosa, primavera, sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incĂȘndio, estrago.
A LaĂs
Ă ciprina LaĂs, de quem sou tributĂĄrio.
A LaĂs que possui compridas tranças pretas,
P’lo meu escravo mandei, no seu aniversĂĄrio,
Um cacho moscatel num cabaz de violetas.Os amantes, que dĂŁo Ă s suas namoradas
Fulgurantes anéis de riqueza estupenda,
Luminosos rocais e redes consteladas,
HĂŁo-de sorrir, bem sei da minha humilde of’renda.Pensei em dar-lhe, Ă© certo, um precioso colar
E um anel com mais luz do que o incĂȘndio de TrĂłia,
Mas reconsiderei de pronto, ao atentar
Que ainda ninguĂ©m viu dar jĂłias a uma jĂłia…
XII
Fatigado da calma se acolhia
Junto o rebanho Ă sombra dos salgueiros;
E o sol, queimando os ĂĄsperos oiteiros,
Com violĂȘncia maior no campo ardia.Sufocava se o vento, que gemia
Entre o verde matiz dos sovereiros;
E tanto ao gado, como aos pegureiros
Desmaiava o calor do intenso dia.Nesta ardente estação, de fino amante
Dando mostras Daliso, atravessava
O campo todo em busca de Violante.Seu descuido em seu fogo desculpava;
Que mal feria o sol tĂŁo penetrante,
Onde maior incĂȘndio a alma abrasava.
Elegia do Amor
Lembras-te, meu amor,
Das tardes outonais,
Em que Ăamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde sĂł Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mĂŁo,
Um lĂrio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu, triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepĂșsculo terno
E doce diluĂa,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
CançÔes do fim do dia.
CançÔes que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memĂłria…
Assim o que partiu
Em frĂĄgil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.Olhavas para mim,
Ăs vezes, distraĂda,
Como quem olha o mar,
Ă tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava,
Violada
PossuĂram-te nas ervas,
Deitada ao comprido
Ou lĂvida a pĂ©:
Do estupro conservas
O sangue e o gemido
Na morte da fé.Chegaste a cavalo
Trémula de espanto:
Esperavas levĂĄ-lo
Com modos de amor:
O fĂĄtum, num canto,
Violento ceifou-te
O pĂșbis em flor:
Dou-te
O acalanto
Mas nĂŁo hĂĄ palavras
Para tal horror!Vem ainda em cĂłs, mulher,
Limpa as tuas lågrimas no meu lenço:
Nem pela dor sequer
Eu te pertenço.O cavalo fugiu,
Deixou-te em fogo a fralda:
Que malfeliz RoldĂŁo
Para tal Alda!
Ao frio, ao frio,
Tinta de ti Ă© a ĂĄgua e sangue o chĂŁo.Ponta Delgada a arder
Do prĂłprio pejo, quis
Em verde converter
O incĂȘndio do teu pĂșbis.Mulher, nĂŁo me dĂȘs guerra,
Oh trĂĄgica enganada:
Tu Ă©s a minha terra
Na carne devastada
Como a Ilha queimada.
A Salvação do Mundo
Os anjos levaram as igrejas…
Anjos envergonhados, de grandes asas tristes,
que fugiam, escondendo o rosto,
nas pregas dos mantos, que os incĂȘndios enegreciam.
Levaram as igrejas, os santos e os milagres.
E os homens ficavam olhando o céu,
os homens que tinham deixado os anjos levar as igrejas,
de mĂŁos postas, ajoelhados.
As mĂŁos que eram para nĂŁo deixar os anjos levar as igrejas.
Mas os homens jĂĄ nĂŁo sabiam,
e os anjos julgaram que eles nĂŁo queriam as igrejas para nada.A terra vazia e os homens de mĂŁos postas, ajoelhados.
EntĂŁo surgiram os anjos de extermĂnio.
E as longas espadas flamejantes
deceparam as cabeças dos homens ajoelhados,
que tinham fechado a porta das igrejas na cara da verdade.
A ausĂȘncia diminui as paixĂ”es pequenas e aumenta as grandes, porque o vento apaga velas e ventila um incĂȘndio.