Passagens de Johann Wolfgang von Goethe

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A maioria sofre durante quase todo o seu tempo, apenas para poder viver, e os poucos lazeres que lhe restam são de tal modo cheios de preocupações, que ele procura todos os meios de aliviá-las.

Comparação de Obras de Arte

À questão de saber se se devem ou não fazer comparações quando se observam diferentes obras de arte gostaríamos de dar a resposta que se segue. O conhecedor que tem formação adequada deve comparar: a ideia paira à sua frente, apreendeu o conceito relativo ao que pode e ao que deve ser produzido. O amador, que é apanhado ainda no trajecto da sua formação, só tem a ganhar se não fizer comparações e se observar em separado cada realização: é assim que o seu gosto e o seu sentido do geral se irão formando a pouco e pouco. Quanto à comparação levada a cabo pelo não iniciado é apenas uma solução de facilidade que dispensa qualquer juízo.

Limitadores do Espírito

Cada vez que se liberta o espírito humano de uma hipótese que o limitava de modo desnecessário, que o forçava a ver errada ou parcialmente, a efectuar combinações erróneas, a enveredar por sofismas em vez de articular juízos rigorosos, presta-se-lhe já um importante serviço. Porque o espírito humano passa então a ver os fenómenos com maior liberdade, passa a encará-los noutras combinações, em diferentes relações, ordena-os a seu modo, e recupera a possibilidade de errar por si próprio e à sua maneira. Coisa que é inestimável, porque não tardará que, na sequência, o espírito humano consiga descobrir os seus próprios erros.

Avaliações Precipitadas

Uma característica inata do homem e muito intimamente entrelaçada com a sua natureza reside no facto de a proximidade das coisas não lhe chegar para o conhecimento. E isso apesar de cada fenómeno de que nós próprios temos consciência ser nesse momento o que nos está mais próximo, podendo nós, portanto, se formos capazes de o penetrar com vigor, exigir-lhe que se explique a si mesmo.
Trata-se, contudo, de qualquer coisa que os homens não aprendem porque vai contra a sua natureza. É assim que mesmo as pessoas de cultura não podem deixar de relacionar uma dada verdade que acabam de constatar numa dada situação e lugar, não apenas com um fenómeno próximo, mas também com fenómenos muito mais amplos e extremamente distantes, do que resultam erros após erros. O fenómeno próximo só se relaciona com um fenómeno distante no sentido em que todas as coisas se regem por um conjunto muito restrito de grandes leis que se manifestam por toda a parte.

Os Erros do Nosso Tempo

É difícil havermo-nos com os erros do nosso tempo. Se os enfrentamos ficamos desacompanhados, e se nos deixamos apanhar por eles não ganhamos com isso nem glória nem alegria.
Para destruir servem todos os falsos argumentos. Para construir, não. O que não é verdade não é construtivo.

Todos Pensam de Forma Diferente, e Muitas Vezes Efémera

Cada indivíduo vê o mundo – e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito – como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado às suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem hesitações e procuram na medida do possível comportar-se de acordo com ele. Há outros que não se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E há ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existência do mundo.
Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também a propósito de assuntos que nos são totalmente indiferentes.

Teorias Precipitadas

É vulgar uma teoria ser resultado da precipitação de um entendimento impaciente que, desejoso de se ver livre dos fenómenos, os substitui por imagens, conceitos, ou com frequência por meras palavras. Pressente-se, e por vezes vê-se até com clareza, que se trata apenas de expedientes. Mas não é sabido que a paixão e o partidarismo se deixam atrair pelos expedientes? E com toda a razão, porque tanta falta lhes fazem.
(…) Avançar precipitadamente para o fim a alcançar, sem reflectir sobre os meios. Como se, para poder ajudar tão cedo quanto possível uma cirança de berço, lhe quiséssemos matar o pai.
Se atentarmos em certos problemas de Aristóteles ficamos supreendidos com o dom de observação e com a imensidade de coisas que não escapavam ao olhar dos gregos. E contudo cometiam o erro da precipitação, já que saltavam imediatamente dos fenómenos para a explicação, de onde resultaram formulações teoréticas totalmente inadequadas. Trata-se todavia de um erro geral que ainda hoje continua a ser cometido.

Este desejo de elevar o mais possível a pirâmide da minha existência, cuja base me foi dada e me domina, ultrapassa qualquer outro e mal me permite um instante de esquecimento.