Os Justos
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Passagens de Jorge Luis Borges
126 resultadosA literatura não é outra coisa além de um sonho dirigido.
Cada escritor cria os seus precursores.
A filosofia é um sistema de dúvidas.
O Presente não Existe
Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo – o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstracta. O presente não é um dado imediato da consciência.
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo…!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.
Sempre imaginei que o paraíso será uma espécie de biblioteca.
O tempo não existe. É apenas uma convenção.
Se pudesse viver novamente, na próxima vida tentaria cometer mais erros.
A vida é pobre demais para não ser também imortal.
O homem está morto. A barba não sabe. Crescem as unhas.
Toda linha reta é o arco de um círculo infinito.
A amizade entre homem e mulher, mesmo que inconscientemente, é sempre um pouco erótica.
Suspeitei uma vez que a única coisa sem mistério é a felicidade, porque se justifica por si só.
A meta é o esquecimento. Eu cheguei antes.
Acho que o escritor deve escrever para a alegria do leitor.
Quem contempla desapaixonadamente, não contempla.
O livro é uma das possibilidades de felicidade de que dispomos.
A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior.
Ninguém pode escrever um livro. Para que seja verdadeiramente um livro, são necessários a aurora e o poente, séculos, armas e o mar que une e separa.
O tempo é a substância de que sou feito.