Passagens de Madame du Châtelet

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Felicidade a Longo Prazo

Procuremos manter-nos de boa saúde, não ter quaisquer preconceitos, ter paixões, pô-las ao serviço da nossa felicidade, substituir as nossas paixões por gostos, conservar preciosamente as nossas ilusões, ser virtuosos, nunca nos arrependermos, afastar de nós as ideias tristes e nunca permitir ao nosso coração conservar uma centelha de gosto por alguém cujo gosto diminua e que deixe de amar-nos. Por pouco que envelheçamos, um dia seremos forçados a abrir mão do amor, e esse dia deve ser aquele em que o amor já não nos faça felizes. Pensemos, enfim, em cultivar o gosto pelo estudo, esse gosto que faz depender a felicidade apenas de nós próprios. Ponhamo-nos ao abrigo da ambição e, sobretudo, cuidemos bem de saber o que queremos ser; decidamo-nos sobre o caminho que queremos seguir para passar a nossa vida e procuremos semeá-lo de flores.

Os Meios para Sermos Felizes

É comum pensarmos que é difícil ser-se feliz e existem boas razões para assim pensar; mas seria mais fácil sermos felizes se, nos homens, as reflexões e a pauta de comportamento precedessem as acções. Somos arrastados pelas circunstâncias e entregamo-nos às esperanças, que nos proporcionam apenas metade do que esperamos. Enfim, só nos damos claramente conta dos meios para sermos felizes quando a idade e os entraves que a nós próprios pusemos lhes colocam obstáculos.
(…) Para sermos felizes, Ă© preciso termo-nos desembaraçado dos preconceitos, seremos virtuosos, gozarmos de boa saĂşde, termos gostos e paixões, sermos susceptĂ­veis de ter ilusões, pois devemos a maior parte dos nossos prazeres Ă  ilusĂŁo, e infeliz daquele que a perder. Longe, pois, de procurarmos fazĂŞ-la desaparecer sob o archote da razĂŁo, tratemos de passar mais uma camada do verniz que ela lança sobre a maior parte dos objectos; este Ă©-lhe ainda mais necessário do que os cuidados e os adornos o sĂŁo para os nossos corpos.
É preciso começarmos por dizer a nós próprios e por convencer-nos de que não temos nada mais a fazer neste mundo, para além de nele procurarmos sensações e sentimentos agradáveis. Os moralistas que dizem aos homens «reprimi as vossas paixões e dominai os vossos desejos se desejais ser felizes» não conhecem o caminho para a felicidade.

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Os Gostos e a Saciedade

A nossa alma quer-se agitada pela esperança e pelo temor; sĂł se sente feliz com as coisas que a fazem sentir a sua prĂłpria existĂŞncia. (…) É certo que as necessidades fĂ­sicas sĂŁo a fonte dos prazeres dos sentidos e estou convencida de que há mais prazer numa fortuna medĂ­ocre do que numa completa abundância. Uma caixa, uma peça de porcelana, um mĂłvel novo sĂŁo uma verdadeira bem-aventurança para mim; mas se tivesse trinta caixas seria pouco sensĂ­vel Ă  trigĂ©sima primeira. Os nossos gostos desvanecem-se facilmente com a saciedade e devemos dar graças a Deus por nos ter dado as provações necessárias para os conservar.