Os Dois
Aos pobres
— Minha mĂŁe, minha mĂŁe, quanta grandeza
Nesses plácidos, quanta majestade;
Como essa gente há de viver, como há de
Ser grande sempre na feliz riqueza.Nem uma lágrima sequer — e Ă mesa
D’entre as baixelas, d’entre a imensidade
Da prata e do ouro — a azul felicidade
Dos bons manjares de Ăłtima surpresa.Nem um instante os olhos rasos d’água,
Nem a ligeira oscilação da mágoa
Na vida farta de prazer, sonora.— Como o teu louco pensamento expandes
Filho — a ventura nĂŁo Ă© sĂł dos grandes
Porque, olha, o mar tambĂ©m Ă© grande e… chore!
Passagens sobre Ouro
455 resultadosAlma Antiga
Põe a tua alma francamente aberta
Ao sol que pelos páramos faĂsca,
Que o sol para a tua alma velha e prisca
Deve de ser como um clarim de alerta.Desperta, pois, por entre o sol, desperta
Como de um ninho a pomba quente e arisca
Ă€ luz da aurora que dos altos risca
De listrões d’ouro a vastidĂŁo deserta.Vai por abril em flores gorgeando
Como pássaro exul as canções leves
Que os ventos vão nas árvores deixando.E tira da tua alma, ó doce amiga,
Almas serenas, puras como a neve,
Almas mais novas que a tua alma antiga!
A Sesta De Nero
Fulge de luz banhado, esplĂŞndido e suntuoso,
O palácio imperial de pórfiro luzente
E mármor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra, em prata incrustado, o nácar do Oriente.Nero no toro ebĂşrneo estende-se indolente…
Gemas em profusão do estrágulo custoso
De ouro bordado vĂŞem-se. O olhar deslumbra, ardente,
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Popéia.
A Vida Ă© LĂquida
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mĂłrula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de vĂbora.
Como-a no livro da lĂngua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha pĂşmblea, me casaco rosso
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, gĂłticas, altas de corpo e copos.
A vida Ă© crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tĂŁo generosa e mĂtica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida Ă© liquĂda.TambĂ©m sĂŁo cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos Ă mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraĂso. O sinistro das horas
Vai se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Ouvir Ă© prata, calar Ă© ouro.
Rodopio
Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas tĂ´rres de marfim.Ascendem hĂ©lices, rastros…
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, farois,
Upam-se estátuas de herois,
Ondeiam lanças e mastros.Zebram-se armadas de côr,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor…Cristais retinem de mĂŞdo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços…
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segrĂŞdo.Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lirios;
Contorcionam-se cĂrios,
Enclavinham-se delĂrios.
Listas de som enveredam…Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emmaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de anseantes…(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas –
Um lenço, fitas, dedais…)Há elmos, trofĂ©us, mortalhas,
Emanações fugidias,
Que escrúpulo pode ter uma mulher em beijocar um terceiro entre os lençóis conjugais, se o mundo chama a isso sentimentalmente um romance, e os poetas o cantam em estrofes de ouro?
Polidez Ă© InteligĂŞncia
A polidez Ă© uma convenção tácita para ignorarmos a mĂsera condição moral e intelectual do ser humano e assim evitarmos acusá-la mutuamente; desse modo, ela vem menos a lume, para proveito de todos. Polidez Ă© inteligĂŞncia; consequentemente, impolidez Ă© parvoĂce. Criar inimigos por impolidez, de maneira desnecessária e caprichosa, Ă© tĂŁo demente quanto pegar fogo Ă prĂłpria casa. Pois a polidez, como as fichas de jogo, Ă© notoriamente uma moeda falsa: economizá-la Ă© prova de insensatez. Pelo contrário, gastá-la em profusĂŁo Ă© prova de sensatez. Todas as nações concluem as suas cartas com «seu mui obediente servidor». SĂł os alemĂŁes suprimem o «servidor» porque, segundo dizem, nĂŁo Ă© verdadeiro! Quem, pelo contrário, leva a polidez atĂ© ao sacrifĂcio dos interesses reais, assemelha-se Ă quele que, em lugar das fichas de jogo, desse autĂŞnticas moedas de ouro. Do mesmo modo que a cera, dura e quebradiça, torna-se maleável com um pouco de calor, assumindo qualquer forma desejada, tambĂ©m se pode, com alguma polidez e amabilidade, tornar flexĂveis e dĂłceis os homens recalcitrantes e hostis. A polidez, portanto, Ă© para o homem o que o calor Ă© para a cera.
O silĂŞncio Ă© de ouro.
As Ideias dependem das Sensações
Ă€ primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que nĂŁo apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas tambĂ©m nem sempre Ă© reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar forÂmas e aparĂŞncias incongruentes nĂŁo causam Ă imaginação mais emÂbaraço do que conceber os objectos mais naturais e mais familiares. Apesar de o corpo confinar-se num sĂł planeta, sobre o qual se arrasta com sofrimento e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos num instante Ă s regiões mais distantes do Universo, ou mesmo, alĂ©m do Universo, para o caos indeterminado, onde se supõe que a Natureza se encontra em total confusĂŁo. Pode-se conceber o que ainda nĂŁo foi visto ou ouvido, porque nĂŁo há nada que esteja fora do poder do pensamento, excepto o que implica absoluta contradição.
Entretanto, embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberÂdade ilimitada (…) ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e todo o poder criador do espĂrito nĂŁo ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiĂŞncia. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idĂ©ias compatĂveis,
Males de Anto
A Ares n’uma aldeia
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, á noite, só, bebia a noite ás taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
Aldeões! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.Mas, atravez da minha dor,
O avarento gostaria que o sol fosse de ouro para poder amoedá-lo.
Sua vida vale muito mais do que ouro.
A luta pelo dinheiro Ă© santa – porque Ă©, no fundo, a luta pela liberdade: mas atĂ© uma certa soma. Passada ela – Ă© a tristonha e baixa gula do ouro.
Tenho Saudades da CarĂcia dos Teus Braços
Tenho saudades da carĂcia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dĂŁo vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mĂŁos (…) Tenho saudades da seda amarela tĂŁo leve, tĂŁo suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguĂ©m se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmĂŁo, que eu nunca tive ninguĂ©m que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente Ă© mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser,