As paixões fazem o homem viver, a sua sabedoria apenas o faz durar.
Passagens sobre Paixão
806 resultadosSó no Ato do Amor se Capta a Incógnita do Instante
Quero capturar o presente que pela sua própria natureza me é interdito: o presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato do amor — pela límpida abstração de estrela do que se sente — capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si: no amor o instante de impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio dos instantes — e o que se sente é ao mesmo tempo que imaterial tão objetivo que acontece como fora do corpo, faiscante no alto, alegria, alegria é matéria de tempo e é por excelência o instante. E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o meu é. E canto aleluia para o ar assim como faz o pássaro. E meu canto é de ninguém. Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.
Não há qualquer paixão a atingir vivendo de forma minimalista – vivendo de uma forma que é menos do que aquela que nós seríamos capaz de viver.
As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a mais simples palha.
Esquecia-se de que o amor vem à sua hora, e de que é ele quem escolhe essa hora, e não nós. Esquecia-se também de que não são as grandes qualidades, as virtudes superiores, que inspiram as grandes paixões; seria demasiado simples…
Nada Vence as Paixões Profundas de Cada Um
As paixões opõem-se às paixões, e podem servir de contrapeso umas às outras; mas a paixão dominante não se pode conduzir senão pelo seu próprio interesse, real ou imaginário, porque ela reina despoticamente sobre a vontade, sem a qual nada se pode. Contemplo humanamente as coisas, e acrescento nesse espírito: nem todo o alimento é próprio para todos os corpos; nem todos os objetos são suficientes para tocar determinadas almas. Quem acredita serem os homens árbitros soberanos dos seus sentimentos não conhece a natureza; consiga-se que um surdo se divirta com os sons encantadores de Mureti, peça-se a uma jogadora, que está a jogar uma grande partida, que tenha a complacência e a sabedoria de se enfadar durante a mesma, nenhuma arte pode fazê-lo.
Os sábios enganam-se quando oferecem a paz às paixões: as paixões são inimigas dela. Eles elogiam a moderação para aqueles que nasceram para a acção e para uma vida agitada; que importa a um homem doente a delicadeza de um festim que lhe repugna? Nós não conhecemos os defeitos de nossa alma; mas ainda que pudéssemos conhecê-los, raramente haveríamos de os querer vencer.
As nossas paixões não são distintas de nós mesmos; algumas delas são todo o fundamento e toda a substância da nossa alma.