O que é estar vivo senão ainda ser capaz de trazer sensações aos outros?
Passagens de Pedro Chagas Freitas
270 resultadosQuem é amado não tem o direito de fazer o imperdoável. Amar é grande demais para aguentar uma pequenez assim.
Amar Demais
A alegria genuína de duas crianças que brincam. Tão grande que nem o pensamento a inibe. E a alegria genuína de dois adultos que amam. Tão grande que nem o medo a inibe. Só o que é grande demais não encolhe. Só amar é tão grande como o que não acaba. As crianças brincam e saltam e gritam. E tudo aquilo – o brincar, o saltar, o gritar – vale por tudo o que é: tudo aquilo é tudo o que é. Sem que pensem no que vem depois, sem que pensem que tudo – sobretudo aquilo que agora as conquista e as arrebata – vai acabar. Só o que é curto demais, tão curto que parece sempre de menos, é eterno. Só o que acaba cedo demais é eterno. E amar-te, meu amor, é sempre cedo demais. E depois, quando acaba, é sempre tarde demais. Amar-te, meu amor, é sempre demais. Só o que não conseguimos segurar nos segura.
Cada passo que deres no sentido contrário ao da tua pessoa é mais um passo que dás a caminho de ti.
Quem não é pretensioso quando ama é porque afinal não ama.
O amor só existe quando nos oferece pelo menos um ou dois segundos de nós próprios.
A velhice é uma ressurreição triste, ensina a viver e depois mata, o fascismo do corpo dói que se farta.
O amor é essa fronteira tão irresistível entre o que a decência permite e a excitação obriga.
Acontece amor quando encontras em ti partes que nunca soubeste que sentiam.
A Forma como me Amas, Mãe
Há qualquer coisa de Deus na forma como me amas, mãe.
As pessoas não são tão grandes como tu, as pessoas não aguentam tanto a vida como tu. As pessoas choram, as pessoas sofrem, as pessoas passam pela vida à procura da melhor maneira de viver. Mas tu amas-me, mãe. Tu amas-me assim, sem condições, e parece que quando me amas nem sequer existes. Apenas ficas ali, a ver-me existir, e é assim que descobres e me ensinas que a vida se resume a ver quem amas viver.Há qualquer coisa de impossível na forma como me amas, mãe.
O possível teria de exigir que parasses quando te dói, que parasses quando o mundo, filho da puta do mundo, te obriga a inventares novas maneiras de me dares tudo o que eu preciso. O possível iria dizer-te que não, que uma só pessoa, tão pequena e tão grande como tu, não pode suportar todo o peso de duas vidas. E tu ainda aí estás, tão forte como só tu, tão impossível como só tu, a sorrir quando me vês de caderno na mão a dizer que sou o melhor aluno da turma. É claro que é bom ser bom aluno,
É assim, apenas assim, que se percebe que um amor não existe: quando tudo o que está antes e depois dele se mantém imutável.
O amor é tão frágil que consegue resistir a tudo.
Antes um idiota que tenta do que um génio que aguenta.
O que morre primeiro: não amar ou amar demais?
A humanidade está dentro das despedidas, só os Homens se doem quando se apartam.
Amas: por exclusão de partes; amas: até a tua parte ser a excluída.
Ama-me como se fôssemos acabar: eis o pedido que te faço para sermos eternos.
Apesar de ser um acérrimo defensor dos direitos da mulher e da igualdade entre sexos, nunca serei eu a dizer que essa igualdade existe mesmo – há um sexo fraco, o dos homens, que se subjuga ao poder sexual do sexo oposto.
Saber demais dá para o torto. Limita-te às ilusões.
A vida é pequena demais para perdermos tempo a gastar energias em algo que não envolva amor.