Poemas sobre Mortos de Ricardo Reis

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Poemas de mortos de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

Melhor Vida Ă© a Vida que Dura sem Medir-se

NĂŁo quero recordar nem conhecer-me.
Somos demais se olhamos em quem somos.
Ignorar que vivemos
Cumpre bastante a vida.

Tanto quanto vivemos, vive a hora
Em que vivemos, igualmente morta
Quando passa conosco,
Que passamos com ela.

Se sabĂȘ-lo nĂŁo serve de sabĂȘ-lo
(Pois sem poder que vale conhecermos?)
Melhor vida Ă© a vida
Que dura sem medir-se.

Quando, LĂ­dia, Vier o Nosso Outono

Quando, LĂ­dia, vier o nosso outono
Com o inverno que hĂĄ nele, reservemos
Um pensamento, nĂŁo para a futura
Primavera, que Ă© de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
SenĂŁo para o que fica do que passa
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.

A Nada Imploram Tuas MĂŁos jĂĄ Coisas

A nada imploram tuas mĂŁos jĂĄ coisas,
Nem convencem teus lĂĄbios jĂĄ parados,
No abafo subterrĂąneo
Da Ășmida imposta terra.

SĂł talvez o sorriso com que amavas
Te embalsama remota, e nas memĂłrias
Te ergue qual eras, hoje
Cortiço apodrecido.

E o nome inĂștil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
NĂŁo lembra. A ode grava,
AnĂŽnimo, um sorriso.

Mortos, Ainda Morremos

O rastro breve que das ervas moles
Ergue o pé findo, o eco que oco coa,
A sombra que se adumbra,
O branco que a nau larga —

Nem maior nem melhor deixa a alma Ă s almas,
O ido aos indos. A lembrança esquece,
Mortos, inda morremos.
LĂ­dia, somos sĂł nossos.