Poemas sobre Mundo de Fernando Assis Pacheco

2 resultados
Poemas de mundo de Fernando Assis Pacheco. Leia este e outros poemas de Fernando Assis Pacheco em Poetris.

Genérico

E tu, meu pai? Adivinho esses vidrilhos
das lĂĄgrimas quebrando
um a um na boca triste mas
por dentro, para que digamos
mais tarde, sem invenção escusada:
o pai nĂŁo chorou.

Eu soube das tuas fĂșrias
mordendo-se em silĂȘncio,
ou de como te pÔes
Ă s vezes tĂŁo de cinza.
O barco, o barco. Ficaremos
ainda estes minutos quantos.
Do que quiseres. E como quiseres.
Fala. Mas nada de telegramas
para depois da barra
– posso nĂŁo os abrir,
juro que posso.
Se eu fosse um amigo, se estivesses
em frente dum copo.
Custava menos. Assim
deslizas a unha
pelo tecido da farda, inĂștil
dedo terno com os olhos longe.
O pai, que nĂŁo chorou, tremia
de modo imperceptĂ­vel.

Lembro-me da bebedeira
em Alpedrinha, na estalagem,
com o LuĂ­s Melo
subitamente velho.
«Tramados, på, tramados.»
O carro falha, sĂŁo as velas
os platinados sujos
«a puta que os pariu» (Luís).

Um Ășltimo aceno sĂł vinho
para estas adolescentes
ao balcĂŁo do bar e depois e depois?

Continue lendo…

Seria o Amor PortuguĂȘs

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhĂŁs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
— tanto pĂł sobre os mĂłveis tua ausĂȘncia.

Se nĂŁo Ă©s tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam Ă  porta,
a solidĂŁo Ă© uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pĂĄssaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lĂĄbios aflitos.
Por exemplo: destruir o silĂȘncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importĂąncia
que hĂĄ na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. FertilizĂĄ-lo.
«Que me importa que batam Ă  porta…»
Sair de trĂĄs da prĂłpria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhĂŁs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhĂŁs
e lhes perdi a conta, pois Ă© como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,

Continue lendo…