Poemas sobre Vazio

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Poemas de vazio escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Elas SĂŁo Vaporosas

Elas sĂŁo vaporosas,
Pálidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar…

Vêm, aéreas, dançar
Com perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos…
Chora no som dos repuxos
O ritmo que há nos seus vultos…

Passam e agitam a brisa…
Pálida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em aurĂ©ola Ă  hora…

Passam nos ritmos da sombra…
Ora Ă© uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene…

E assim vĂŁo indo, delindo
Seu perfil Ăşnico e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lĂ­vido e frio…

Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longĂ­nquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Pálido pálio lunar …

Biografia

Sou aquele a quem busco:
jamais encontrarei a minha sombra.
A noite me acompanha
e sei que luto
com a treva. Combato: sangue a sangue
e corpo a corpo.

Rios sob o meu pulso
escapam ao destino atroz do sono:
durmo com a lembrança
de minha fuga
e o sĂłlido vazio das montanhas.
Sem horizontes.

Avanço com a angústia
prévia: a visão do derradeiro encontro.
Reconheço que canso.
Porque sou surdo:
só ouço a minha voz quando alguém chama
alguém que é outro.

Reconheço um segundo:
crio logo raĂ­zes e sou tronco
sem nenhuma esperança.
Espero tudo
e nĂŁo espero nada que nĂŁo ganhe
outro contorno.

Sou aquele que do hĂşmus
liberta os pés e as pernas sem esforço
até saber que anda
imĂłvel. Fundas
sĂŁo minhas mĂŁos e afundam por instantes.
Encolho os ombros.

Fragmentos de uma Elegia

(6)

Sei que me ouves na tempestade
e nas gotas que ficam nas folhas,
a brilhar. Sei nas ondas ouvir
teus mergulhos de sereia
e nos gritos dos golfinhos
entender teus recados. Percebo
no trinar dos pássaros outro
som – a tua voz. Assim, quando
em tempo de solidĂŁo e desamor,
em momentos de vazio e medo
mergulho em trevas de terror,
quase me apetece desistir, como tu
desististe. Mas procuro-te na vida
e na vida luto contra a morte.

Culpabilidade

O que Ă© o perdĂŁo?

Vivi na esperança
de o ter entre os dedos.
Quem diz que o alcança
sĂł vive de enredos…

Fiz mal? Mas a quem?
Que venham contar-me
as mágoas geradas
por meu vil desdém
e as feridas mostrar-me
na carne rasgadas.

Fiz mal? Mas a quem?
Fui pedra lançada
no vosso caminho?
Barrei-vos a estrada
com traves de pinho?

SĂł sei que

há vozes gritando
a culpa que sinto
pesar-me na alma,
há ecos cavando
a dor que pressinto
em noites de calma…

SĂł sei que
suspensos enredos
da minha agonia,
urdida ao serĂŁo
em grande segredo,
tornaram vazia
a minha intuição.

Fiz mal? Sim ou nĂŁo?
Onde e quando?
Dizei-mo, dizei-mo!

Eu sou como a rocha
virada prò norte,
que acolhe a rajada
em concha bem forte
e a atira prò nada…

Fiz mal? Sim ou nĂŁo?
Até os duendes,
escondidos e aduncos,
me negam razĂŁo.

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A Verdade

A verdade Ă© semelhante a uma adolescente
vibrante, flexĂ­vel, em radiosa sombra.
Quando fala Ă© a noite translĂşcida no mar
e a esfera germinal e os anéis da água.
Um apelo suave obstinado se adivinha.

Ela dorme tĂŁo perfeitamente despertada
que em si a verdade Ă© o vazio. Ela aspira
Ă  cegueira, ao eclipse, Ă  travessia
dos espelhos até ao último astro. Ela sabe
que o muro está em si. Ela é a sede

e o sopro, a falha e a sombra fascinante.
Ela funda uma arquitectura volante
em suspensas superfĂ­cies ondulantes.
Ela Ă© a que solicita e separa, delimita
e dissemina as sílabas solidárias.

Sussurro

Isto é um poço. Há sempre quem nele se debruce. A água
continua a correr sem qualquer destino, e sabemos
como se afasta devagar para ser igual Ă s vestes
caĂ­das, talvez abandonadas. Assim tu podes ver
o que se confunde ali com a luz e, depois, se torna
mais nosso. Sem pressa aproximas-te agora desse espelho
vazio e sentirás que só a brisa desce até ficarmos
perto de alguns sulcos. Eles tornaram-se maiores, humedecidos.
Inclinas-te um pouco mais como se finalmente escutasses
uma confidência. Sabemos que é em vão porque ninguém se encontra
ao teu lado e já não é suficiente o sussurro da água.

VisĂŁo Dezasseis

Deixando nele marcas como se estivesse dentro
de um cĂ­rculo de fogo. Ou como um assassino
emparedado na cal a quem lançassem musgo
até à morte. Há ali um espaço solto, o sítio onde
os pássaros devoram os peixes. E uma zona escura
com um manto redondo tapando a luz, uma espécie
de cegueira em cujo centro existe um castanheiro
e uma caixa vazia. Um papel voa, desliza junto
a um muro e Ă© daĂ­ que a mĂşsica se espalha presa a
um fio de cobre. É nesse momento que a imagem
dela se forma e se despedaça. O seu corpo
Ă© agora o vento.