Passagens sobre Portas

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Frases sobre portas, poemas sobre portas e outras passagens sobre portas para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Serenidade Desperta

Tenho tanta coisa para fazer. Pois, mas aquilo que faz, fá-lo com qualidade? Conduzir atĂ© ao emprego, falar com os clientes, trabalhar no computador, fazer recados, lidar com os incontáveis afazeres que preenchem a sua vida quotidiana – atĂ© que ponto Ă© que se entrega Ă s coisas que faz? E realiza-as com entrega, sem resistĂŞncia, ou, pelo contrário, sem se entregar e resistindo Ă  acção? É isto que determina o sucesso na vida e nĂŁo a dose de esforço que se despende. O esforço implica stresse e desgaste fĂ­sico, implica a necessidade absoluta de atingir um determinado objectivo ou de alcançar um determinado resultado.

É capaz de detectar dentro de si até a mais pequena sensação de não quererestar a fazer aquilo que está a fazer? Isso é uma negação da vida e, desse modo, não será possível obter resultados verdadeiramente bons.

Se for capaz de descobrir aquela sensação, será que tambĂ©m consegue abdicar dela e entregar–se completamente Ă quilo que faz?

“Fazer uma coisa de cada vez”, foi assim que um Mestre Zen definiu o espĂ­rito da filosofia Zen.

Fazer uma coisa de cada vez significa estar nela por inteiro, concentrar nela toda a sua atenção.

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Neruda e García Lorca em Homenagem a Rubén Dario

Eis o texto do discurso:

Neruda: Senhoras…

Lorca: …e senhores. Existe na lide dos touros uma sorte chamada «toreio dei alimĂłn», em que dois toureiros furtam o corpo ao touro protegidos pela mesma capa.

Neruda: Federico e eu, ligados por um fio eléctrico, vamos emparelhar e responder a esta recepção tão significativa.

Lorca: É costume nestas reuniões que os poetas mostrem a sua palavra viva, prata ou madeira, e saúdem com a sua voz própria os companheiros e amigos.

Neruda: Mas nós vamos colocar entre vós um morto, um comensal viúvo, escuro nas trevas de uma morte maior que as outras mortes, viúvo da vida, da qual foi na sua hora um marido deslumbrante. Vamos esconder-nos sob a sua sombra ardente, vamos repetir-lhe o nome até que a sua grande força salte do esquecimento.

Lorca: NĂłs, depois de enviarmos o nosso abraço com ternura de pinguim ao delicado poeta Amado Villar, vamos lançar um grande nome sobre a toalha, na certeza de que vĂŁo estalar as taças, saltar os garfos, buscando o olhar que todos anseiam, e que um golpe de mar há-de manchar as toalhas. NĂłs vamos evocar o poeta da AmĂ©rica e da Espanha: RubĂ©n…

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RuĂ­nas

Cobrem plantas sem flor crestados muros;
Range a porta anciĂŁ; o chĂŁo de pedra
Gemer parece aos pés do inquieto vate.
RuĂ­na Ă© tudo: a casa, a escada, o horto,
Sítios caros da infância.
Austera moça
Junto ao velho portĂŁo o vate aguarda;
Pendem-lhe as tranças soltas
Por sobre as roxas vestes.
Risos nĂŁo tem, e em seu magoado gesto
Transluz nĂŁo sei que dor oculta aos olhos;
— Dor que à face não vem, — medrosa e casta,
Íntima e funda; — e dos cerrados cílios
Se uma discreta muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto;
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos nĂŁo acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto. A mĂŁo lhe estende
O abatido poeta. Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sĂ­tios,
Ermos depois que a mĂŁo da fria morte
Tantas almas colhera. Desmaiavam,
Nos serros do poente,
As rosas do crepĂşsculo.
“Quem és? pergunta o vate; o sol que foge
No teu lânguido olhar um raio deixa;
— Raio quebrado e frio; — o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.

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Os Poetas

Nunca os vistes
Sentados nos cafés que há na cidade,
Um livro aberto sobre a mesa e tristes,
IncĂłgnitos, sem oiro e sem idade?

Com magros dedos, coroando a fronte,
Sugerem o nostálgico sentido
De quem rasgasse um pouco de horizonte
Proibido…

Fingem de reis da Terra e do Oceano
(E filhos sĂŁo legĂ­timos do vĂ­cio!)
Tudo o que neles nos pareça humano
É fogo de artifício.

Por vezes, fecham-lhes as portas
— Ódio que a nada se resume —
Voltam, depois, a horas mortas,
Sem um queixume.

E mostram sempre novos laivos
De poesia em seu olhar…

Adolescentes! Afastai-vos
Quando algum deles vos fitar!

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos. O que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Sem passar da porta de casa,
Ă© possĂ­vel saber o que acontece no mundo…
Quanto mais longe se busca o saber,
menos se aprende.

É assim tão longínqua a felicidade? No tempo, refiro-me à sua distância no tempo; em termos de perspetiva, não está longe nem perto, a felicidade é algo por que se espera, que se procura, e quando começas a cansar-te de esperar, o dono do local onde marcaste encontro com ela tem pressa em fechar o estabelecimento (espere, espere, não me empurre, por favor, deixe-me acabar esse copo). À tua frente, a porta em direção à qual ele te empurra, e lá fora estende-se a noite que terás de enfrentar sozinho, a escuridão que assusta a criança, e não queres mergulhar nesse negrume.

Na Roça

Cercada de mestiças, no terreiro,
Cisma a Senhora Moça; vem descendo
A noite, e pouco e pouco escurecendo
O vale umbroso e o monte sobranceiro.

Brilham insetos no capim rasteiro,
VĂŞm das matas os negros recolhendo;
Na longa estrada ecoa esmorecendo
O monĂłtono canto de um tropeiro.

Atrás das grandes, pardas borboletas,
Crianças nuas lá se vão inquietas
Na varanda correndo ladrilhada.

Desponta a lua; o sabiá gorjeia;
Enquanto Ă s portas do curral ondeia
A mugidora fila da boiada…

Acendimento

Seria bom sentir no quarto qualquer mĂşsica
enquanto nos banham os perfis ateados
pelo aroma da tĂ­lia, sem voz, em abandono.
A entrada por detrás das ruas principais
onde a morrinha parece que nem molha
e se chega perdido onde se vai.
NĂŁo, nĂŁo Ă© sĂł um beijo que te quero dar.

Quantas vezes nesta hora de desvalimento
vejo orion e as plêiades devagar no céu de inverno.
Mas hoje
com a calma inesperada de chuvas que nĂŁo cessam
acordo já depois. Caí numa hibernação que não norteia
o desequilĂ­brio do sentimento.

Espelhos sem paz tocam-nos no rosto.
Na cega mancha de roupagem aconchego
cada intempérie com sua mentira
e depois sigo pela torrente, pelo enredo
dos outeiros, cada espelho continua
a caução pacificadora do engano.
É isso que te levo, isso que me dás
quando dizes, já sem o dizeres, eu amo-te.

Pela berma da humidade cerrada
um risco de mercĂşrio trespassa.
Na gravilha passos que não há
esmagam a música que ninguém escuta.
Sabiam de cor tudo o que falhava,

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Diz-me a Verdade acerca do Amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que Ă© um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso nĂŁo servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinĂŞncia?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou Ă© fofo como um edredĂŁo de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de histĂłria fazem-lhe referĂŞncias
Em curtas notas crĂ­pticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?

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Quando o personagem Arnolfo retorna de uma viagem, bate Ă  porta e nenhum de seus criados, Alain e Georgette, vĂŁo abrir-lhe a porta:

Supremo Enleio

Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi trĂŞs vezes santa!

Erva do chĂŁo que a mĂŁo de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo Ă  tua porta…
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhĂŁ: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda…

Eu Nunca Guardei Rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas Ă© como se os guardasse.
Minha alma Ă© como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pĂ´r de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planĂ­cie
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza Ă© sossego
Porque Ă© natural e justa
E Ă© o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mĂŁos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruĂ­do de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos sĂŁo contentes.
SĂł tenho pena de saber que eles sĂŁo contentes,
Porque, se o nĂŁo soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar Ă  chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

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Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.

O Avarento

No meio de seus cofres, desvelado,
Co’as tampas levantadas, rasas de ouro,
Cevando a vista está no metal louro
Dele o cioso Avarento namorado.

Temendo que lhe venha a ser roubado,
Emprega alma e vida em seu tesouro,
Girando com os olhos, qual besouro,
Zumbindo sem cessar, afervorado.

Fechado nele está, com sete portas,
Com temor de algum fero arrombamento
De astutas invenções, de ideias tortas.

NĂŁo emprega em mais nada o pensamento.
Cega ambição de vãs riquezas mortas!
Quão infeliz não és, louco avarento!

Teus Olhos

Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d’AlĂ©m-Mundos ignorados!

Olhos do meu Amor! Fontes… cisternas..
Enigmáticas campas medievais…
Jardins de Espanha… catedrais eternas…

Berço vinde do cĂ©u Ă  minha porta…
Ă“ meu leite de nĂşpcias irreais!…
Meu sumptuoso tĂşmulo de morta!…

A Noite Abre Meus Olhos

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente Ă s escuras
construí minha casa na duração
de obscuras lĂ­nguas de fogo, de lianas, de lĂ­quenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta

o amor Ă© uma noite a que se chega sĂł

Lembrança

Fui Essa que nas ruas esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mĂŁos pálidas poisou…

Tanto poeta em versos me cantou!
Fiei o linho Ă  porta dos casais…
Fui descobrir a ĂŤndia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que nĂŁo voltou…

Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes…

Tudo em cinzentas brumas se dilui…
Ah, quem me dera ser Essas que eu fui,
As que me lembro de ter sido… dantes!…