Passagens sobre Sarjetas

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Soneto XXXII

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tĂ­mida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada…

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que nĂŁo sĂŁo barcos de ouro os meus ideais:
sĂŁo feitos de papel, sĂŁo como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais…
– Que os meus barquinhos, lĂĄ se foram eles!
Foram-se embora e nĂŁo voltaram mais!

Amei-te

Amei-te
porque o teu olhar numa tarde se encheu de lĂĄgrimas,
e falaste em morrer, e tremeste de medo.

Contudo
nĂŁo eras mais que uma flor corruta,
dessas que a vida enleia e usa
e depois atira para uma sarjeta lamacenta.

Mas, para mim, eras toda inocĂȘncia, toda pureza branca.
Porque a inocĂȘncia Ă© um dom de Deus,
o dom sĂł concedido
Ă queles que mais ama.
Por isso, os homens sĂł aparentemente sujam
as pequeninas rosas.

Ah! tivesse eu forças para seguir-te,
embora de longe, mas atentamente,
ajudando-te a subir o agreste calvĂĄrio!

A IrrelevĂąncia da Escrita Controversa

Suponhamos que amanhĂŁ, como consequĂȘncia de terem lido Henri Miller, todas as pessoas começavam a usar uma linguagem livre, uma linguagem de sarjeta, se quiserem, e a agir de acordo com as suas crenças e convicçÔes. E entĂŁo ? A minha resposta Ă© que, acontecesse o que acontecesse, seria como nada tivesse ocorrido, nada, insisto, se o compararmos com os efeitos da explosĂŁo de uma Ășnica bomba atĂłmica. E isto Ă©, confesso, a coisa mais triste que um indivĂ­duo criador como eu pode admitir. É minha convicção que estamos hoje a atravessar um perĂ­odo a que se poderia chamar de «insensibilidade cĂłsmica», um perĂ­odo em que Deus parece, mais do que nunca, ausente do mundo, e o homem se vĂȘ condenado a enfrentar o destino que para si prĂłprio criou. Num momento como este, a questĂŁo de saber se um homem Ă© ou nĂŁo culpado de usar de uma linguagem obscena em livros impressos parece-me perfeitamente inconsequente. É quase como se eu, ao atravessar um prado, descobrisse uma erva coberta de esterco e, curvando-me para a ervilha obscura, lhe dissesse em tom de admoestação: «

Vai chover amanhĂŁ, pensei, vai cair tanta e tanta chuva que serĂĄ como se a cidade toda tomasse banho. As sarjetas, os bueiros, os esgotos levariam para o rio todo o pĂł, toda a lama, toda a merda de todas as ruas.

Todos nĂłs estamos deitados na sarjeta, sĂł que alguns estĂŁo olhando as estrelas…