Apaixonar-se, apesar de tudo, é uma prova de sanidade mental, pois no amor descobrimos uma generosidade ilimitada.
Passagens de Saul Bellow
20 resultadosEssa é a luta da humanidade, recrutar outras pessoas para a sua versão do que é real.
Ter Razão é uma Questão de Explicações
Havia que ser um fanático para querer ter sempre razão. Ter razão era sobretudo uma questão de explicações. O homem intelectual tornara-se uma criatura explicativa. Toda a gente explicava, os pais aos filhos, os maridos às mulheres, os conferencistas ao seu público, os especialistas aos leigos, os colegas aos colegas, os médicos aos pacientes, o homem à sua alma. A génese disto, a causa daquilo, as origens dos acontecimentos, a história, a estrutura, as razões pelas quais. Na maior parte dos casos, a explicação entrava por um ouvido e saía pelo outro. A alma desejava o que desejava. Tinha o seu próprio saber natural. A infeliz poisava, pobre avezinha, sobre superstruturas de explicação, sem saber para onde levantar voo.
(…) Era um afã holandês, pensou Sammler, sempre a dar à bomba para manter enxutos alguns hectares de terra. O mar invasor era uma metáfora da multiplicação dos factos e das sensações; quanto à terra, era uma terra de ideias.
. Sammler’
Vive ou morre, mas não envenenes tudo à tua volta.
Tens que lutar pela tua vida. Essa é a condição principal para que a possas segurar.
Estar certo sempre foi em grande parte uma questão de explicações.
Nós temos medo de nos governarmos, é claro. É tão difícil. Queremos logo desistir da nossa liberdade. Não é sequer liberdade verdadeira, porque não é acompanhada de compreensão. É apenas uma condição preliminar de liberdade. Mas odiamo-la. E em breve fugimos, escolhemos um senhor, rolamos no chão e pedimos o chicote. (…) Não é o amor que nos dá o cansaço da vida. É a nossa incapacidade de sermos livres.
Eu quero dizer-te, não te cases com o sofrimento. Algumas pessoas fazem-no. Casam-se com ele, dormem e comem juntos, como marido e mulher. Se se deixam levar pela alegria acham que é adultério.
Tu pode desperdiçar toda a segunda metade da tua vida a recuperar dos erros da primeira.
A Nossa Avidez Infinita
Todos nós sofremos de uma avidez infinita. As nossas vidas são-nos preciosas, estamos sempre alerta contra os desperdícios. Ou talvez fosse melhor chamar a isso Sentido de Destino Pessoal. Sim. Creio que é melhor do que avidez. Deverá a minha vida perder um milésimo de polegada da sua plenitude? É uma coisa diferente avaliar-se a si próprio ou vangloriar-se loucamente. E há então os nossos planos, os nossos ideais. Também eles são perigosos. Podem consumir-nos como parasitas, comer-nos, sorver-nos e deixar-nos exangues e prostrados. E no entanto estamos constantemente a convidar os parasitas, como se estivéssemos ansiosos por sermos sorvidos e comidos. Isto porque nos ensinaram que não há limites para o que um homem pode ser.
Há seiscentos anos um homem era o que o seu nascimento demarcava para ele. Satanás e a Igreja, representante de Deus, lutavam por ele. Ele, pela sua escolha, decidia em parte qual seria o resultado. Mas quer fosse, depois da morte, para o céu ou para o inferno, o seu lugar entre os vivos estava marcado. Não podia ser contestado. Desde então o palco foi novamente arranjado e os seres humanos apenas passeiam nele e, sob este novo ponto de vista,
Fui forçado a me perguntar se eu algum dia verteria uma lágrima diante dos túmulos dos meus pais, supondo-se que ainda estivesse vivo quando de sua mortes.
A estrita seriedade é muito mais perigosa do que qualquer piada.
Às vezes desperdiçamo-nos: o nosso verdadeiro desejo é deixar de viver exclusivamente para nós próprios.
Intrusões inesperadas de beleza. É isso que a vida é.
O tédio é a convicção de que não podes mudar… o grito das capacidades não utilizadas.
Quando estava na faculdade, li todos aqueles livros clínicos sobre o sexo: Havelock Ellis, Freud, Krafft-Ebing. Não é novidade para mim que os homens que se casam com mulheres bonitas são com freqüência alvo da suspeita do homossexualismo. Eles contam com suas mulheres para atrair admiradores.
A Libertação para a Individualidade
Esta libertação para a individualidade não foi um grande sucesso. Para um historiador, tem todo o interesse. Mas para alguém consciente do sofrimento, é pavoroso. Corações que não encontram verdadeira gratificação, almas sem alimento. Falsidades, ilimitadas. Desejos, ilimitados. Possibilidades, ilimitadas. Exigências impossíveis feitas a realidades complexas, ilimitadas. Regresso a formas de religiosidade grosseira e infantil, a mistérios, totalmente inconscientes, claro — espantoso. Orfismo, mitraísmo, maniqueísmo, gnosticismo.
. Sammler (discurso da personagem Sr. Sammler)’
Estar preparado para responder a todas as perguntas é o sinal infalível da estupidez.
No ano passado, quando estava atravessando por uma crise, meu tio Benn (B. Crader, o famoso botânico) mostrou-me um desenho humorístico de Charles Addams.
Freud ensinou que o amor era a supervalorização. Ou seja, se você visse o objeto amado como realmente é, não seria capaz de amá-lo.