Sonetos sobre Ă‚nsia

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Sonetos de ânsia escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Frustração

Persegui-a com as mãos, como uma criança a um brinquedo.
Era um sonho; era mais: – a alegria que chega,
o prazer que nos toma e nos deixa inebriados,
atirando Ă  corrente, num gesto, os sentidos…

Ah! Povoou minhas noites de sono sem pálpebras;
dançava entre estrelas na distância, – via-a!
Meu destino! pensei, – eis o amor! – É esse sangue
que me queima por dentro e me agita: eis o amor!

E alcancei-a! Eis o mar ao redor atordoante!
Nos meus braços em concha era como uma pérola
escondida, o mistĂ©rio do oceano a guardar…

E de repente, é estranho! esse vazio, esta ânsia!
Como a posse do amor está longe do amor
e o rumor que há na concha… está longe do mar!

XLVI

NĂŁo vĂŞs, Lise, brincar esse menino
Com aquela avezinha? Estende o braço;
Deixa-a fugir; mas apertando o laço,
A condena outra vez ao seu destino?

Nessa mesma figura, eu imagino,
Tens minha liberdade; pois ao passo,
Que cuido, que estou livre do embaraço,
EntĂŁo me prende mais meu desatino.

Em um contĂ­nuo giro o pensamento
Tanto a precipitar-me se encaminha,
Que nĂŁo vejo onde pare o meu tormento.

Mas fora menos mal esta ânsia minha,
Se me faltasse a mim o entendimento,
Como falta a razĂŁo a esta avezinha.

Para quĂŞ me Deste Ă  Vida?

Para que foi, Ăł MĂŁe, que me criaste?
Mas — antes! — para quê me deste à vida?
Emendando: porquĂŞ, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?

Melhor andaras, MĂŁe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste?

Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.

Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias,
só e sem mim, — que é um só demais.

O Meu ImpossĂ­vel

Minh’alma ardente Ă© uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ă‚nsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo Ă© vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito.É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vĂŁo! Deus, que tristeza!…

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E nĂŁo me compreenderam!…VĂŁo e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto…

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, nĂŁo a chorava como agora,
IrmĂŁos, nĂŁo a sentia como a sinto!…

LXXV

Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusĂŁo veio animar-me.
Na minh’alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.

Ouvi gritos em mim como um alarme.
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios que vinham desolar-me.

Vi-me no cimo eterno da montanha,
Tentando unir ao peito a luz dos cĂ­rios
Que brilhavam na paz da noite estranha.

Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei aos caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tĂŁo alto…