Sonetos sobre Cera

4 resultados
Sonetos de cera escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Debaixo Do Tamarindo

No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!

Soneto IV

Sobre mu cuidado triste me desfaço,
Como ó sol neve, como névoa ó vento,
E como cera ao fogo; e assi em vão tento
Quanto cuido e ordeno, e quanto faço.

Nele mil vezes mouro e mil renaço,
E ando de pensamento em pensamento
Provando se acharei contentamento
Que me erga das tristezas em que faço.

Mas em vão o desejo, em vão o espero!
Que vós, senhora, tendes já tomado
Todo remédio que alegrar-me possa.

Mas não me tirareis este cuidado,
Que inda que é triste, é vosso, e assi o quero;
Mas ai, que desta pena a culpa é vossa!

Vos Foi Beijar na Parte Onde se Via

O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil, que eu na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo
Por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama que se atreve
A apagar seus ardores e tormentos
Na vista a quem o sol temores deve!

Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.

O Anel de Corina

Enquanto espera a hora combinada
De o remeter com flores a Corina,
Ovídio oscúla o anel que lhe destina
E em que uma gema fulge bem gravada.

— « Como eu te invejo, ó prenda afortunada !
« Com ela vais dormir, mimosa e fina,
« Com ela has-de banhar-te na piscina
« Donde sairá, qual Venus, orvalhada,

« O dorso e o seio lhe verás de rosas,
« E selarás as cartas deliciosas
« Com que em minh’alma alento e esp’rança verte…

« E temendo (suprema f’licidade!)
« Que a cera adira á pedra, ai! então ha-de
« Com a ponta da língua humedecer-te! »