Sonetos sobre Horizonte de Cruz e Souza

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Sonetos de horizonte de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Sonetos

Do som, da luz entre os joviais duetos,
Como uma chusma alada de gaivotas,
Vindos das largas amplidões remotas,
Batem as asas todos os sonetos.

VĂŁo — por estradas, por difĂ­ceis rotas,
Quatorze versos — entre dois quartetos
E duas belas e luzidas frotas
Rijas, seguras, de mais dois tercetos.

Com a brunida lâmina da lima,
Vão céus radiosos, horizontes acima,
Pelas paragens lĂ­mpidas, gentis,

Atravessando o campo das quimeras,
Aberto ao sol das flĂłreas primaveras,
Todo estrelado de áureos colibris.

Frutas De Maio

Maio chegou — alegre e transparente
Cheio de brilho e mĂşsica nos ares,
De cristalinos risos salutares,
Frio, porém, ó gota alvinitente.

Corre um fluido suave e odorescente
Das laranjeiras, como dos altares
O incenso — e, como a gaze azul dos mares,
Leve — há por tudo um beijo, docemente.

Isto bem cedo, de manhĂŁ — adiante
Pela tarde um sol calmo, agonizante,
Põe no horizonte resplendentes franjas.

Há carinhos, da luz em cada raio,
Filha — e eu que adoro este frescor de maio
Muito, mas muito — trago-te laranjas.

Recordação

Foi por aqui, sob estes árvoredos,
Sob este doce e plácido horizonte,
Perto da clara e pequenina fonte
Que murmura lá baixo os seus segredos…

Recordo bem todos os cantos ledos
Da passarada — e lembro-me da ponte
Por sobre a qual via-se além, de fronte,
O mar azul batendo nos penedos.

Sinto a impressĂŁo ainda da paisagem,
Do trĂŞmolo (…)* da folhagem,
Das culturas rurais, do sĂ­tio agreste.

A luz do dia vinha entĂŁo morrendo…
Foi por aqui que eu pude ficar crendo
O quanto pode o teu olhar celeste.

* Rasurado

Carnal E MĂ­stico

Pelas regiões tenuíssimas da bruma
Vagam as Virgens e as Estrelas raras…
Como que o leve aroma das searas
Todo o horizonte em derredor perfume.

N’uma evaporação de branca espuma
VĂŁo diluindo as perspectives claras…
Com brilhos crus e fĂşlgidos de tiaras
As Estrelas apagam-se uma a uma.

E entĂŁo, na treva, em mĂ­sticas dormĂŞncias
Desfila, com sidéreas lactescências,
Das Virgens o sonâmbulo cortejo…

Ă“ Formas vagas, nebulosidades!
EssĂŞncia das eternas virgindades!
Ă“ intensas quimeras do Desejo…

Enlevo

Da doçura da Noite, da doçura
De um tenro coração que vem sorrindo,
Seus segredos recĂ´nditos abrindo
Pela primeira vez, a luz mais pura.

Da doçura celeste, da ternura
De um Bem consolador que vai fugindo
Pelos extremos do horizonte infindo,
Deixando-nos somente a Desventura.

Da doçura inocente, imaculada
De uma carícia virginal da Infância,
Nessa de rosas fresca madrugada.

Era assim tua cândida fragrância,
Arcanjo ideal de auréola delicada,
VisĂŁo consoladora da Distância…

Sempre E Sempre

De longe ou perto, juntas, separadas,
Olhando sempre os mesmos horizontes,
Presas, unidas nossas duas fontes
GĂŞmeas, ardentes, novas, inspiradas;

Vendo cair as lágrimas prateadas,
Sentindo o coro harmĂ´nico das fontes,
Sempre fitando a cĂşspide dos montes
E o rosicler das frescas alvoradas;

Sempre embebendo os lĂ­mpidos olhares
Na claridĂŁo dos humildes luares,
No loiro sol das crenças se embebendo,

VĂŁo nossas almas brancas e floridas
Pelo futuro azul das nossas vidas,
Sempre se amando, sempre se querendo.