Sonetos sobre Nebulosas de Augusto dos Anjos

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Sonetos de nebulosas de Augusto dos Anjos. Leia este e outros sonetos de Augusto dos Anjos em Poetris.

A Dança Da PsiquĂȘ

A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!

É então que a vaga dos instintos presos
– MĂŁe de esterilidades e cansaços –
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.

Subitamente a cerebral coréa
Påra. O cosmos sintético da Idéa
Surge. EmoçÔes extraordinĂĄrias sinto…

Arranco do meu crĂąnio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!

Ecos D’alma

Oh! madrugada de ilusÔes, santíssima,
Sombra perdida lĂĄ do meu Passado,
Vinde entornar a clĂąmide purĂ­ssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!

Longe das tristes noutes tumulares
Quem me dera viver entre quimeras,
Por entre o resplandor das Primaveras
Oh! madrugada azul dos meus sonhares;

Mas quando vibrar a Ășltima balada
Da tarde e se calar a passarada
Na bruma sepulcral que o céu embaça,

Quem me dera morrer entĂŁo risonho,
Fitando a nebulosa do meu Sonho
E a Via-LĂĄctea da IlusĂŁo que passa!

Aurora Morta, Foge! Eu Busco A Virgem Loura

Aurora morta, foge! Eu busco a virgem loura
Que fugiu-me do peito ao teu clarĂŁo de morte
E Ela era a minha estrela, o meu Ășnico Norte,
O grande Sol de afeto – o Sol que as almas doura!

Fugiu… e em si a Luz consoladora
Do amor – esse clarĂŁo eterno d’alma forte –
Astro da minha Paz, SĂ­rius da minha Sorte
E da Noute da vida a VĂȘnus Redentora.

Agora, oh! Minha MĂĄgoa, agita as tuas asas,
Vem! Rasga deste peito as nebulosas gazas
E, num PĂĄlio auroral de Luz deslumbradora,

Ascende Ă  Claridade. Adeus oh! Dia escuro,
Dia do meu Passado! Irrompe, meu Futuro;
Aurora morta, foge – eu busco a virgem loura!

A Idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incĂłgnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegraçÔes maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida Ă s cordas do laringe,
TĂ­sica, tĂȘnue, mĂ­nima, raquĂ­tica …

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da lĂ­ngua paralĂ­tica

As Montanhas

I

Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual Ă©, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!

Quem nĂŁo vĂȘ nas granĂ­ticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumĂ­adas tamanhas?!

Ah! Nesse anelo trĂĄgico de altura
NĂŁo serĂŁo as montanhas, porventura,
Estacionadas, Ă­ngremes, assim,

Por um abortamento de mecĂąnica,
A representação ainda inorgùnica
De tudo aquilo que parou em mim?!