Soneto XXXXVI
Tanto que sente enfraquecer o alento,
Quebrado o brio e jĂĄ menos ligeira
Co’ a longa idade e vida derradeira,
[A] Ăguia a presa siguir cortar o vento.Levanta o mais que pode o vĂŽo isento
E, firida do Sol desta maneira
Då no mar, recobrando a força inteira
E, com novo vigor, novo ornamento.Quem nĂŁo vĂȘ figurada a grande glĂłria
De ua alma, cuja vida mal gastada
Com nova penitĂȘncia se melhora.Ao alto se levanta co’a memĂłria,
E no divino amor toda abrasada
Cai no mar das lĂĄgrimas que chora.
Sonetos sobre PenitĂȘncia
5 resultadosSonho Vago
Um sonho alado que nasceu um instante,
Erguido ao alto em horas de demĂȘncia…
Gotas de ĂĄgua que tombam em cadĂȘncia
Na minh’alma tristĂssima, distante…Onde estĂĄ ele, o Desejado? O Infante?
O que hĂĄ-de vir e amar-me em doida ardĂȘncia?
O das horas de mĂĄgoa e penitĂȘncia?
O PrĂncipe Encantado? O Eleito? O Amante?E neste sonho eu jĂĄ nem sei quem sou…
O brando marulhar dum longo beijo
Que nĂŁo chegou a dar-se e que passou…Um fogo-fĂĄtuo rĂștilo, talvez…
E eu ando a procurar-te e jĂĄ te vejo!
E tu jĂĄ me encontraste e nĂŁo me vĂȘs!…
A. S. Francisco Tomando O Poeta O Habito De Terceyro
Ă magno serafim, que a Deus voaste
Com asas de humildade, e paciĂȘncia,
E absorto jĂĄ nessa divina essĂȘncia
Logras o eterno bem, a que aspiraste:Pois o caminho aberto nos deixaste,
Para alcançar de Deus tambĂ©m clemĂȘncia
Na ordem singular de penitĂȘncia
Destes Filhos Terceiros, que criaste.A Filhos, como Pai, olha queridos,
E intercede por nĂłs, Francisco Santo,
Para que te sigamos, e imitemos.E assim desse teu hĂĄbito vestidos
Na terra blasonemos de bem tanto,
E depois para o Céu juntos voemos.
Ăvora
Ao amigo vindo da luminosa ItĂĄlia, a minha cidade, como eu soturno e triste…
Ăvora! Ruas ermas sob os cĂ©us
Cor de violetas roxas…Ruas frades
Pedindo em triste penitĂȘncia a Deus
Que nos perdoe as mĂseras vaidades!Tenho corrido em vĂŁo tantas cidades!
E sĂł aqui recordo os beijos teus,
E sĂł aqui eu sinto que sĂŁo meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!Ăvora!…O teu olhar…o teu perfil…
Tua boca sinuosa, um mĂȘs de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça!…Em cada viela o vulto dum fantasma…
E a minh’alma soturna escuta e pasma…
E sente-se passar menina e moça…
Se Tomar Minha Pena Em PenitĂȘncia
Se tomar minha pena em penitĂȘncia
do erro em que caiu o pensamento,
nĂŁo abranda, mas dobra meu tormento,
a isto, e a mais, obriga a paciĂȘncia.E se ĂŒa cor de morto na aparĂȘncia,
um espalhar suspiros vĂŁos ao vento,
em vĂłs nĂŁo faz, Senhora, movimento,
fique meu mal em vossa consciĂȘncia.E se de qualquer ĂĄspera mudança
toda a vontade isenta Amor castiga
(como eu vi bem no mal que me condena);e se em vĂłs nĂŁo s’entende haver vingança,
serå forçado (pois Amor me obriga)
que eu sĂł de vossa culpa pague a pena.