Sonetos sobre Sorriso

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Sonetos de sorriso escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Leio-Te: – O Pranto Dos Meus Olhos Rola:

Leio-te: – o pranto dos meus olhos rola:
– Do seu cabelo o delicado cheiro,
Da sua voz o timbre prazenteiro,
Tudo do livro sinto que se evola …

Todo o nosso romance: – a doce esmola
Do seu primeiro olhar, o seu primeiro
Sorriso, – neste poema verdadeiro,
Tudo ao meu triste olhar se desenrola.

Sinto animar-se todo o meu passado:
E quanto mais as pĂĄginas folheio,
Mais vejo em tudo aquele vulto amado.

Ouço junto de mim bater-lhe o seio,
E cuido vĂȘ-la, plĂĄcida, a meu lado,
Lendo comigo a pĂĄgina que leio.

XIX

Sai a passeio, mal o dia nasce,
Bela, nas simples roupas vaporosas;
E mostra Ă s rosas do jardim as rosas
Frescas e puras que possui na face.

Passa. E todo o jardim, por que ela passe,
Atavia-se. HĂĄ falas misteriosas
Pelas moitas, saudando-a respeitosas…
É como se uma sílfide passasse!

E a luz cerca-a, beijando-a. O vento Ă© um choro
Curvam-se as flores trĂȘmulas … O bando
Das aves todas vem saudĂĄ-la em coro …

E ela vai, dando ao sol o rosto brendo.
Às aves dando o olhar, ao vento o louro
Cabelo, e Ă s flores os sorrisos dando…

Sofredora

Cobre-lhe a fria palidez do rosto
O sendal da tristeza que a desola;
Chora – o orvalho do pranto lhe perola
As faces maceradas de desgosto.

Quando o rosĂĄrio de seu pranto rola,
Das brancas rosas do seu triste rosto
Que rolam murchas como um sol jĂĄ posto
Um perfume de lĂĄgrimas se evola.

Tenta às vezes, porém, nervosa e louca
Esquecer por momento a mĂĄgoa intensa
Arrancando um sorriso Ă  flor da boca.

Mas volta logo um negro desconforto,
Bela na Dor, sublime na Descrença.
Como Jesus a soluçar no Horto!

Desengano

A pensionista pĂĄlida que gosta
(Fundada pretensĂŁo!) que a digam bela,
E do colégio, à tarde, na janela,
Para dar-me um sorriso se recosta;

Que me escreve nas férias, de Bemposta,
Aonde vai visitar a parentela,
Pedindo-me que não me esqueça dela
E dando-me uns beijinhos…, pela posta;

Essa ninfa gentil dos olhos pretos,
Essa beleza de anjo… oh, sorte varia;
Vergonha eterna para os meus bisnetos!

Com um pançudo burguĂȘs, uma alimĂĄria
Que nĂŁo a sabe amar, nem faz sonetos,
Vai casar-se amanhĂŁ na CandelĂĄria.

Soneto IV – A Uma Senhora

Dos meus lares, dos meus que choro ausente,
Me vieste acordar saudade Ă­mpia,
Tu, amada do Anjo d’Harmonia,
Que te fazes ouvir tĂŁo docemente.

Do piano o teclado obediente
Ao teu tocar encheu-se de magia,
E lĂĄ dos mortos na soidĂŁo sombria
Operou-se um milagre de repente.

A morte sobre a fouce, entristecida,
Amarguradas lĂĄgrimas verteu,
Talvez do fero ofĂ­cio arrependida!

Bellini do sepulcro a pedra ergueu;
E, cheio de alegria desmedida,
C’um sorriso de glĂłria um — bravo — deu.

O Nosso Livro

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito…
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro jĂĄ nĂŁo sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito
NĂŁo esfolhes os lĂ­rios com que Ă© feito
Que outros nĂŁo tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos sĂł nossos mas que lindos sois!

Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
DirĂĄ, fechando o livro docemente:
“Versos sĂł nossos, sĂł de nĂłs os dois!…”

Quem?

NĂŁo sei quem Ă©s. JĂĄ nĂŁo te vejo bem…
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!…)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

NĂ©voa? Quimera? Fumo? Donde vem?…
– NĂŁo sei se tu, amor, assim me vĂȘs!…
Nossos olhos nĂŁo sĂŁo nossos, talvez…
Assim, tu nĂŁo Ă©s tu! NĂŁo Ă©s ninguĂ©m!…

És tudo e nĂŁo Ă©s nada… És a desgraça…
És quem nem sequer vejo; Ă©s um que passa…
És sorriso de Deus que nĂŁo mereço…

És aquele que vive e que morreu…
És aquele que Ă© quase um outro eu…
És aquele que nem sequer conheço…

Fiei-me nos Sorrisos da Ventura

Fiei-me nos sorrisos da ventura,
Em mimos feminis, como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
MomentĂąneo relĂąmpago nĂŁo dura:

No meio agora desta selva escura,
Dentro deste penedo hĂșmido e ouco,
Pareço, atĂ© no tom lĂșgubre, e rouco
Triste sombra a carpir na sepultura:

Que estĂąncia para mim tĂŁo prĂłpria Ă© esta!
Causais-me um doce, e fĂșnebre transporte,
Áridos matos, lÎbrega floresta!

Ah! nĂŁo me roubou tudo a negra sorte:
Inda tenho este abrigo, inda me resta
O pranto, a queixa, a solidĂŁo e a morte.

Versos

Versos! Versos! Sei lĂĄ o que sĂŁo versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pĂ©talas que caem uma a uma…

Versos!… Sei lĂĄ! Um verso Ă© o teu olhar,
Um verso Ă© o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lĂĄ tambĂ©m que sĂŁo…
Sei lĂĄ! Sei lĂĄ!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços sĂŁo talvez…

Versos! Versos! Sei lĂĄ o que sĂŁo versos…
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que nĂŁo crĂȘs…

Passei Ontem A Noite Junto Dela.

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisĂŁo se erguia
Apenas entre nĂłs – e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela…

Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! SĂł a via!
MĂșsica mais do cĂ©u, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

Como era doce aquele seio arfando!
Nos lĂĄbios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!

Mas o que Ă© triste e dĂłi ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando…
Cheio de amores! E dormir solteiro!

Eu Planto no Teu Corpo

Como se arrasta no sol morno um verme
Por sobre a polpa de uma fruta, eu durmo
A tua carne e sinto o teu contorno
Entre os meus braços como um fruto morno.

E a minha boca sobre a pele, um verme,
Vai percorrendo o teu sorriso, e torno
Ao longo do nariz, depois contorno
Os teus olhos fechados por querer-me.

E desço o teu pescoço, feito um mono,
Para os teus seios mornos, como um verme
Por sobre os frutos prontos para o tombo.

Vertendo a unção da morte nos teus membros,
E estremecendo numa cruz de febre,
Eu planto no teu corpo a flor de um pombo.

Menina Dos Olhos Verdes

Ó! menina dos olhos verdes, que à tardinha
estĂĄs sempre Ă  janela Ă  hora de minha volta…
Que cousas pensarĂĄs? Que fazes aĂ­ sozinha?
Por que regiÔes de sonho a tua alma se solta?

Sempre que dobro a esquina encontro o teu olhar
e o teu claro sorriso adolescente ainda…
Habituei-me a te ver – e Ă©s tĂŁo criança e tĂŁo linda
que sem querer, tambĂ©m sorrio ao te encontrar…

Menina dos olhos verdes… A quem esperas
com teus olhos gritando a cor das primaveras?
Queres versos? Pois bem, estes sĂŁo teus, recolhe-os!

Escrevi-os pensando em ti, tĂ­mida e bela,
– a menina dos olhos verdes da janela
debruçada à janela verde dos meus olhos!

Foi Um Dia De InĂșteis Agonias

Foi um dia de inĂșteis agonias.
Dia de sol, inundado de sol!…
Fulgiam nuas as espadas frias…
Dia de sol, inundado de sol!…

Foi um dia de falsas alegrias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…
Voltavam ranchos das romarias.
DĂĄlia a esfolhar-se, – o seu mole sorriso…

Dia impressĂ­vel mais que os outros dias.
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…
Difuso de teoremas, de teorias…

O dia fĂștil mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias…
TĂŁo lĂșcido… TĂŁo pĂĄlido… TĂŁo lĂșcido!…

Psicologia

Foi hoje que notei: – em nosso face a face
encontrei teu olhar, e assim como se deve
fazer em tal momento, um cumprimento leve
dos meus lĂĄbios fugiu sem que sequer notasse…

Foi hoje que notei: – tu passas orgulhosa
e nem deste resposta ao meu sorriso antigo,
– voltaste o rosto atĂ©, assim como quem posa
e foste indelicada a um teu sincero amigo…

PerdĂŽo-te… É que sinto o quanto me adoraste,
do contrario, farias como eu faço, enquanto
nĂŁo nego um cumprimento ao ver que tu passaste…

Ainda sofres, bem sei… És tolinha demais…
– foi tanto o teu amor, e o teu amor Ă© tanto
que ao passares por mim nem cumprimentas mais!

Post Coitum Animal Triste

Em ti o poema, o amplo tecido da ĂĄgua ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensĂŁo e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mĂŁos das chuvas.

Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as ĂĄrvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestĂ­gio dos Ășltimos peregrinos, aves nuas
que jĂĄ desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.

Uma voz, no silĂȘncio calmo das ĂĄguas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.

Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.

Sorrio

Ah! vieste me falar de antigamente
desse tempo em que fui sentimental,
quando o amor era um sonho puro e ardente
vestido em vĂ©u de espumas, nupcial…

Quando me dava, perdulariamente,
vivendo o mal sem conhecer o mal,
a levar a alma inquieta de quem sente
e de quem busca uma conquista ideal…

Era sestro da idade essa existĂȘncia…
Sinal de pouca vida e muito sonho,
de muito sonho… e pouca experiĂȘncia…

Hoje, no entanto, se a pensar me ponho:
– sorrio… Um vĂŁo sorriso de indulgĂȘncia…
…Sinal de muita vida… e pouco sonho…

VariaçÔes Sérias Em Forma De Soneto

Vejo mares tranqĂŒilos, que repousam,
Atrås dos olhos das meninas sérias.
Alto e longe elas olham, mas nĂŁo ousam
Olhar a quem as olha, e ficam sérias.

Nos encantos dos lĂĄbios se lhe pousam
Uns anjos invisíveis. Mas tão sérias
SĂŁo, alto e longe, que nem eles ousam
Dar um sorriso àquelas bocas sérias.

Em que pensais, meninas, se repousam
Os meus olhos nos vossos? Eles ousam
Entrar paragens tristes tão sérias!

Mas poderei dizer-vos que eles ousam?
Ou vão, por injunçÔes muito mais sérias,
Lustrar pecados que jamais repousam?

Amor

Quando Ă© noite, e, na voz da Imensidade,
Um alto sonho em lĂĄgrimas crepita,
Tua graça de morte me visita,
Teu olhar Ă© um sorriso de saudade…

E a tua AusĂȘncia intimamente invade
Meu coração que morto inda palpita;
E a lĂĄgrima que eu sangro se ilimita,
Reflecte em sua dor a eternidade!

Vens de Além; são de sombras teus vestidos;
Tua noite de morte me ilumina,
Confundimos em ĂȘxtase os sentidos…

Um canto ri na cruz da nossa dor;
Canto onde brilha uma oração divina,
Morre o Desejo e principia o Amor!

Namorados

Um ao lado do outro, – assim juntinhos,
mãos enlaçadas num enlevo infindo,
– seguem… a imaginar que estĂŁo seguindo
o mais suave de todos os caminhos…

Com gravetos de sonho vĂŁo construindo
na terra, como no ar os passarinhos,
a esplĂȘndida ilusĂŁo de um mundo lindo,
entre beijos, sorrisos e carinhos…

Nada tolda os seus olhos… Nem um vĂ©u…
Andam sem ver os lados, vendo o fim
e o fim que vĂȘem Ă© o azul do cĂ©u…

Ah! se a gente, tal como namorados,
pudesse eternamente andar assim
pela vida a sonhar de braços dados!

Tudo Passa – I

Aquela moça graciosa e bela
Que passa sempre de vestido escuro
E traz nos lĂĄbios um sorriso puro,
Triste e formoso como os olhos dela…

Diz que su’alma tĂ­mida e singela
Jå não tem coração: que o mundo impuro
Para sempre o matou… e o seu futuro
Foi-se n’um sonho, desmaiada estrela.

Ela nĂŁo sabe que o desgosto passa
Nem que do orvalho a abençoada graça
Faz reviver a planta que emurchece.

FlĂĄvia! nas almas juvenis, formosas,
Berço sagrado de jasmins e rosas,
O coração nĂŁo morre: ele adormece…