Sonetos sobre Tamanhos de Florbela Espanca

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Sonetos de tamanhos de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Para QuĂȘ?

Ao velho amigo JoĂŁo

Para quĂȘ ser o musgo do rochedo
Ou urze atormentada da montanha?
Se a arranca a ansiedade e o medo
E este enleio e esta angĂșstia estranha

E todo este feitiço e este enredo
Do nosso prĂłprio peito? E Ă© tamanha
E tĂŁo profunda a gente que o segredo
Da vida como um grande mar nos banha?

Pra que ser asa quando a gente voa,
De que serve ser cĂąntico se entoa
Toda a canção de amor do Universo?

Para quĂȘ ser altura e ansiedade,
Se se pode gritar uma Verdade
Ao mundo vĂŁo nas sĂ­labas dum verso?

Deixai Entrar A Morte

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem pra mim, pra me levar.
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada.

Quem sou eu neste mundo?A deserdada,
A que prendeu nas mĂŁos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar,
E que, ao abri-las, nĂŁo encontrou nada!

Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lĂĄ, que me trouxeste

Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lĂ­rio que em mĂĄ hora foi nascido!…

Crucificada

Amiga… noiva… irmĂŁ… o que quiseres!
Por ti, todos os céus terão estrelas,
Por teu amor, mendiga, hei-de merecĂȘ-las,
Ao beijar a esmola que me deres.

Podes amar até outras mulheres!
– Hei de compor, sonhar palavras belas,
Lindos versos de dor sĂł para elas,
Para em lĂąnguidas noites lhes dizeres!

Crucificada em mim, sobre os meus braços,
Hei de poisar a boca nos teus passos
Pra não serem pisados por ninguém.

E depois… Ah! depois de dores tamanhas,
NascerĂĄs outra vez de outras entranhas,
NascerĂĄs outra vez de uma outra MĂŁe!