Passagens sobre Teto

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Frases sobre teto, poemas sobre teto e outras passagens sobre teto para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Sensorial

Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,
mastigo Ă  boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de mĂșsica de presente,
conhecer vĂĄrios tons pra uma palavra sĂł.
EspĂ­rito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meus seis instrumentos.
Fico gostando ou perdoo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.

Tristissima

N’um paiz longe, secreto,
Lendaria ilha affastada,
Jaz todo o dia sentada
N’um throno de marmor preto.

No seu palacio esculpido
Não entram constellaçÔes;
Os tectos dos seus sallÔes
SĂŁo todos d’ouro polido!

Nas largas escadarias
Sobem vassallos ao cento,
De noute suluça o vento
N’aquellas tapeçarias.

E pelas largas janellas
Fechadas, sempre corridas,
Ha flores desconhecidas
Que nĂŁo olham as estrellas.

Na dextra segura um calix,
– Calix da DĂŽr e da Magoa!
Onde estĂĄ contida a agoa
E o sangue dos nossos males!

Pelas florestas sosinhas
Escuras, sem rouxinoes,
Erram chorando os Heroes,
E as desgraçadas Rainhas.

Seguida, ĂĄ noute, de servas,
Caminha, em cortejo mudo,
Rojando o negro velludo
De seu cabello nas hervas.

SĂłmente ao vel-a passar
Ficam as almas surprezas;
– Ha todo um mar de tristezas
No abismo do seu olhar!

CĂąntico Negro

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Hå, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glĂłria Ă© esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre Ă  minha mĂŁe

NĂŁo, nĂŁo vou por aĂ­! SĂł vou por onde
Me levam meus prĂłprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vĂłs responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aĂ­…

Se vim ao mundo, foi
SĂł para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vĂłs
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstĂĄculos?…
Corre,

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Cantiga do Rosto Branco

Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.

“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”

E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”

Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusÔes com elas.

Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lĂĄbios pousou seus lĂĄbios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.

Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles låbios doces,
E tudo perdoava.

Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.

E para si,

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Busque a igualdade, mesmo sendo desigual. Equalize as diferenças e faça-se, ao lado de quem ama, uma unidade. Pense que, se hå união sob os lençóis, para que haver distùncia sob o mesmo teto?

A Sesta De Nero

Fulge de luz banhado, esplĂȘndido e suntuoso,
O palĂĄcio imperial de pĂłrfiro luzente
E mĂĄrmor da LacĂŽnia. O teto caprichoso
Mostra, em prata incrustado, o nĂĄcar do Oriente.

Nero no toro ebĂșrneo estende-se indolente…
Gemas em profusĂŁo do estrĂĄgulo custoso
De ouro bordado vĂȘem-se. O olhar deslumbra, ardente,
Da pĂșrpura da TrĂĄcia o brilho esplendoroso.

Formosa ancila canta. A aurilavrada lira
Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da ArĂĄbia em recendente pira.

Formas quebram, dançando, escravas em coréia.
E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lĂșbrica PopĂ©ia.

As culpas da casa alheia todos as acreditamos; as da prĂłpria poucos as vĂȘem pouco, porque tĂȘm nos olhos todas as vigas dos tectos.

Somos todos irmãos, não porque dividamos, o mesmo teto e a mesma mesa: divisamos a mesma espada, sobre nossa cabeça.

Esta Velha AngĂșstia

Esta velha angĂșstia,
Esta angĂșstia que trago hĂĄ sĂ©culos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lågrimas, em grandes imaginaçÔes,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoçÔes sĂșbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas nĂŁo: Ă© este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que…,
Isto.

Um internado num manicÎmio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicĂŽmio sem manicĂŽmio.
Estou doido a frio,
Estou lĂșcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que sĂŁo loucura
Porque nĂŁo sĂŁo sonhos.
Estou assim…

Pobre velha casa da minha infĂąncia perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que Ă© do teu menino? EstĂĄ maluco.
Que Ă© de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
EstĂĄ maluco.
Quem de quem fui? EstĂĄ maluco. Hoje Ă© quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religiĂŁo qualquer!
Por exemplo,

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Maria

Maria, hĂĄ no seu gesto airoso o nobre,
Nos olhos meigos e no andar tĂŁo brando,
Um nĂŁo sei que suave que descobre,
Que lembra um grande pĂĄssaro marchando.

Quero, Ă s vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
LevĂĄ-la ao teto azul que a terra cobre.

E penso entĂŁo, e digo entĂŁo comigo:
“Ao cĂ©u, que vĂȘ passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.

Påssaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lĂ©pida Maria”.

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mĂŁos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e nĂŁo segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
TĂŁo linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que då graça à fermosura.
Vai fermosa e nĂŁo segura.

Ela esquenta a papa do neto Ele quase que fez fortuna Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una até que a morte os una

LĂșcia

(Alfred de Musset)

NĂłs estĂĄvamos sĂłs; era de noite;
Ela curvara a fronte, e a mĂŁo formosa,
Na embriaguez da cisma,
TĂȘnue deixava errar sobre o teclado;
Era um murmĂșrio; parecia a nota
De aura longĂ­nqua a resvalar nas balsas
E temendo acordar a ave no bosque;
Em torno respiravam as boninas
Das noites belas as volĂșpias mornas;
Do parque os castanheiros e os carvalhos
Brando embalavam orvalhados ramos;
OuvĂ­amos a noite, entre-fechada,
A rasgada janela
Deixava entrar da primavera os bĂĄlsamos;
A vĂĄrzea estava erma e o vento mudo;
Na embriaguez da cisma a sĂłs estĂĄvamos
E tĂ­nhamos quinze anos!

LĂșcia era loura e pĂĄlida;
Nunca o mais puro azul de um céu profundo
Em olhos mais suaves refletiu-se.
Eu me perdia na beleza dela,
E aquele amor com que eu a amava – e tanto ! –
Era assim de um irmĂŁo o afeto casto,
Tanto pudor nessa criatura havia!

Nem um som despertava em nossos lĂĄbios;
Ela deixou as suas mĂŁos nas minhas;
TĂ­bia sombra dormia-lhe na fronte,

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