CrĂłnica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma histĂłria de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me sĂŁo conferidos. Os meus direitos sĂŁo falar bem, assim como para outros nĂŁo falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder Ă fama que tĂŞm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francĂŞs, a mim nĂŁo me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que nĂŁo era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça prĂłpria, Ă© isto Ă© duma complexidade que o cĂłdigo civil nĂŁo alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que sĂŁo de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, nĂŁo excluĂdos do trato social atravĂ©s dos seus conflitos prĂłprios,
Textos sobre Descobertas de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosA Educação da Fé
Sendo a fĂ© um dom, como pode ser motivo de educação? NĂŁo pode realmente ser ensinada, mas sim irradiada. Os que a possuem podem significar a estrela-guia, a perseverança num encontro difĂcil de suceder, mas cuja esperança comove todo o nosso ser. É possĂvel que a Igreja se volte para esse apostolado da fĂ© que foi extremamente importante no seu começo. NĂŁo o velho sistema de grupos sectários que sĂŁo o modelo dos processos polĂticos e que, quando se afirma um movimento e este toma amplitude, se eliminam. NĂŁo Ă© isso. Trata-se de focos de comunicação que dispensam a organização premeditada e atĂ© a linguagem elaborada, o discurso piedoso e a erudição duma exegese. Um interessar a alma na fĂ© sem recorrer ao preconceito da santidade. Descobrir a imensa novidade da fĂ© num mundo em que o prĂłprio cristĂŁo vive de maneira pagĂŁ e singularmente a coberto dos antigos textos que esqueceu ou que desconhece completamente.
A prova de que o cristĂŁo vive como um bárbaro Ă© o sentido que tomou a arte religiosa. NĂŁo Ă© raro encontrar nas salas de convĂvio burguesas, juntamente com a televisĂŁo, ou a mesa de jogo, ou a instalação estereofĂłnica para o gira-disco,