Textos sobre Diário

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Textos de diário escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Não Deixes Que Metam o Nariz na Tua Vida

Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não. Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo. É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito.
Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar.
(…) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma.
Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras.

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O Desejo de Ser Sincero é Superficial

O desejo de ser sincero é superficial. Não é por acaso que muitos dos romances entre os últimos aparecidos são escritos na primeira pessoa, de modo a que o eu repetido e disseminado ao longo das páginas produza uma sensação de algo muito próximo a uma lembrança, a uma confissão, a um diário. Não é também por acaso que neles se evita com muito cuidado o enredo ou de certa forma tudo o que possa parecer invenção; e que se narre os factos com garra jornalística, como coisa que realmente tivesse acontecido. A sinceridade, no seu estrito sentido, não suporta a narração objectiva que é um princípio de artifício nem a invenção que em todas as ocasiões pode parecer falsa.
A sinceridade parece-se muito com o mar em certos dias. Há manhãs de tanta bonança que se andamos de barco e nos inclinamos para contemplar a água debaixo de nós, tem-se a impressão de que estamos suspensos sobre transparentes e tangíveis precipícios. A água, por muito profunda que seja, não se opõe a que se olhe a prumo para baixo e se veja, numa claridade esverdeada, o fundo areoso espargido de seixos e de trigueiras céspedes. Nasce então uma espécie de exaltação,

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A Tolerância é um Atributo dos Fortes

A emoção é um campo de energia em contínuo estado de transformação. Produzimos centenas de emoções diárias. Elas organizam-se, desorganizam-se e reorganizam-se num processo contínuo e inevitável. O ideal seria que o círculo de transformação da emoção seguisse uma trajetória prazerosa, ou seja, que um sentimento de alegria se transformasse num sentimento de paz, que se transformasse numa reação de amor, que se transformasse numa experiência contemplativa. Mas, na realidade, o que ocorre na vida de cada ser humano é que a alegria se converte em ansiedade, o prazer em irritabilidade, enfim, as emoções alternam-se.

Não é possível para a natureza humana ter uma emoção continuamente prazerosa. Não existe, como muitos psicólogos pensam, equilíbrio emocional. A emoção passa por inevitáveis ciclos diários. No entanto, a emoção é mais saudável quanto mais estável ela for e quanto mais perdurarem os sentimentos que alimentam o prazer e a serenidade.

A tolerância é um atributo dos fortes e não dos fracos. A tolerância produz profunda estabilidade no campo da energia emocional. Só se constrói a tolerância quando se constrói primeiro a capacidade de compreender as limitações dos outros.

Quanto mais uma pessoa for intolerante, mais será invadida pelos comportamentos dos outros,

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