Os Expectantes

Entre as definições da ilha planetária em que nos encontramos desterrados, uma das mais apropriadas seria: uma grande sala de espera. Uma terça parte da vida Ă© anulada numa semimorte, outra gasta em fazer mal a nĂłs mesmos e aos outros e a Ăşltima esboroa-se e consome-se na expectativa. Esperamos sempre alguma coisa ou alguĂ©m – que vem ou nĂŁo, que passa ou desilude, que satisfaz ou mata. Começa-se, em criança, a esperar a juventude com impaciĂŞncia quase alucinada; depois, quando adolescente, espera-se a independĂŞncia, a fortuna ou porventura apenas um emprego e uma esposa. Os filhos esperam a morte dos pais, os enfermos a cura, os soldados a passagem Ă  disponibilidade, os professores as fĂ©rias, os universitários a formatura, as raparigas um marido, os velhos o fim. Quem entrar numa prisĂŁo verificará que todos os reclusos contam os dias que os separam da liberdade; numa escola, numa fábrica ou num escritĂłrio, sĂł encontrará criaturas que esperam, contando as horas, o momento da saĂ­da e da fuga. E em toda a parte – nos parques pĂşblicos, nos cafĂ©s, nas salas – há o homem que espera uma mulher ou a mulher que espera um homem. Exames, concursos, noivados, lotarias, seminários,

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