Textos sobre Homens de Thomas Mann

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Textos de homens de Thomas Mann. Leia este e outros textos de Thomas Mann em Poetris.

O SolitĂĄrio

As observaçÔes e as vivĂȘncias do solitĂĄrio que sĂł fala consigo prĂłprio sĂŁo simultaneamente mais indistintas e intensas do que as do homem social e os seus pensamentos sĂŁo mais graves, mais fantasiosos e nunca sem uma coloração de melancolia. Imagens e impressĂ”es que outros poriam naturalmente de lado apĂłs um olhar, um sorriso, um comentĂĄrio, ocupam-no mais do que Ă© devido, tornam-se profundas no silĂȘncio, ganham significado, transformam-se em acontecimento, aventura, emoção. A solidĂŁo cria o original, o belo ousado e estranho cria a poesia. Mas cria tambĂ©m o distorcido, o desproporcionado, o absurdo e o proibido.

A Vantagem dum Longo Treino

A vantagem de um longo treino e duma escrupulosa concentração no futuro: na hora das realizaçÔes estabelece-se um estado sonambĂșlico intermediĂĄrio entre o fazer e o deixar fazer, entre o agir e o ser objecto de acção. Isso requer tanto menos atenção quanto Ă© certo que, a maior parte das vezes, a realidade exige de nĂłs muito menos do que imaginamos e, assim, encontramo-nos um pouco na situação do homem que, armado atĂ© aos dentes, ao travar uma luta, nĂŁo tem necessidade, para vencer, senĂŁo de manejar ligeiramente uma Ășnica peça do seu arsenal. Com efeito, quem liga importĂąncia a si mesmo exercita-se no que Ă© mais difĂ­cil para se tornar cada vez mais destro no que Ă© fĂĄcil e poder ter a satisfação de triunfar, usando dos meios mais delicados e discretos. Ele repele, aliĂĄs, os expedientes grosseiros e selvagens, nĂŁo se resolvendo a usĂĄ-los senĂŁo em casos de força maior.

A Indiferença ou a Paixão pelos Outros

O que Ă© mais proveitoso — perguntava eu — representar o mundo como pequeno ou como grande? Vejamos como eu resolvia o assunto: os homens eminentes, os capitĂŁes famosos, os estadistas competentes, em suma, todos os conquistadores e todos os chefes que se elevam pela violĂȘncia acima dos outros homens, devem ser feitos de tal maneira que o Mundo lhes deve parecer como um tabuleiro de damas. Se assim nĂŁo fosse, eles nĂŁo teriam a rudeza e a impassibilidade necessĂĄrias para subordinarem audaciosamente aos seus imprevisĂ­veis planos a felicidade e os sofrimentos dos indivĂ­duos isolados, sem se importarem nada com isso. Em contrapartida, uma tĂŁo limitada concepção pode levar os homens a nĂŁo realizarem coisa alguma, porque todo aquele que considera a humanidade como uma coisa sem importĂąncia acabarĂĄ por a achar insignificante e por soçobrar na indiferença e na passividade. Desdenhoso de tudo, preferirĂĄ a inĂ©rcia Ă  acção sobre os espĂ­ritos, sem contar que a sua insensibilidade, a sua ausĂȘncia de simpatia e a sua letargia chocarĂŁo toda a gente, ofendendo constantemente um mundo imbuĂ­do do seu prĂłprio valor. Assim se lhe fecharĂŁo todas as vias de um sucesso imprevisto. SerĂĄ mais razoĂĄvel — perguntava eu, entĂŁo — ver na humanidade qualquer coisa de grande,

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A Arte Ă© IndivĂ­duo, nĂŁo Colectividade

Arte Ă© espĂ­rito, e o espĂ­rito nĂŁo precisa, em absoluto, de se sentir obrigado a servir a sociedade, a colectividade. A meu ver, nĂŁo tem direito a fazĂȘ-lo, devido Ă  sua liberdade e Ă  sua nobreza. Uma arte que «se mete com o povo», fazendo suas as necessidades das massas, do zĂ©-povinho, dos ignorantĂ”es, cai na misĂ©ria. Prescrever-lhe isso como um dever, admitindo-se, talvez, por razĂ”es polĂ­ticas, unicamente uma arte que a gentinha possa compreender, Ă© mesmo o cĂșmulo da grosseria e equivale a assassinar o espĂ­rito. Este – eis a minha firme convicção – pode empreender os mais audaciosos, os mais incontidos avanços, as tentativas e pesquisas menos acessĂ­veis Ă s multidĂ”es, e todavia ter a certeza de servir, de um modo elevado, indirectamente o homem, e Ă  la longue atĂ© os homens.

A Maior Intensidade de Vida do Artista

Embora o artista em todos os perĂ­odos da sua vida permaneça mais prĂłximo da infĂąncia, para nĂŁo dizer mais fiel do que o homem especializado na realidade prĂĄtica, muito embora se possa afirmar que ele, ao contrĂĄrio deste Ășltimo se mantĂ©m continuamente no estado sonhador e puramente humano da criança brincalhona, o caminho que transpĂ”e a partir dos primĂłrdios intactos atĂ© Ă s fases tardias, jamais imaginadas do seu devir, Ă© infinitamente mais longo, mais aventuroso, mais emocionante para o espectador, do que o do homem burguĂȘs, para o qual a reminiscĂȘncia de tambĂ©m ter sido criança em outros tempos nunca fica tĂŁo prenhe de lĂĄgrimas.