Textos sobre Emoções

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Textos de emoções escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Amor é Mais Forte

Os amantes de hoje preferem a droga mais leve, o tabaco mais light ou o café descafeinado. Já ninguém quer ficar pedrado de amor ou sofrer de uma overdose de paixão. As emoções fortes são fracas e as próprias fraquezas revelam-se mais fortes. Os amantes, esses, são igualmente namorados da monotonia e amigos íntimos da disciplina. O que está fora de controlo causa-lhes confusão, e afecta-lhes uma certa zona do cérebro, mas quase nunca lhes toca o coração. O amor devia ser sonhado e devia fazê-los voar; em vez disso é planeado, e quanto muito, fá-los pensar.
Sobre o amor não se tem controlo. É um sentimento que nos domina, que nos sufoca e que nos mata. Depois dá-nos um pouco vida. No amor queremos viver, mas pouco nos importa morrer e estamos sempre dispostos a ir mais além. Deixamo-nos cair em tentação, e não nos livramos do mal, embora procuremos o bem. No amor também se tem fé, mas não se conhecem orações: amamos porque cremos, porque desejamos e porque sabemos que o amor existe. Amamos sem saber se somos amados, e por isso podemos acabar desolados, isolados e deprimidos. Que se lixe! O amor não é justo,

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Serenidade Desperta

Tenho tanta coisa para fazer. Pois, mas aquilo que faz, fá-lo com qualidade? Conduzir até ao emprego, falar com os clientes, trabalhar no computador, fazer recados, lidar com os incontáveis afazeres que preenchem a sua vida quotidiana – até que ponto é que se entrega às coisas que faz? E realiza-as com entrega, sem resistência, ou, pelo contrário, sem se entregar e resistindo à acção? É isto que determina o sucesso na vida e não a dose de esforço que se despende. O esforço implica stresse e desgaste físico, implica a necessidade absoluta de atingir um determinado objectivo ou de alcançar um determinado resultado.

É capaz de detectar dentro de si até a mais pequena sensação de não quererestar a fazer aquilo que está a fazer? Isso é uma negação da vida e, desse modo, não será possível obter resultados verdadeiramente bons.

Se for capaz de descobrir aquela sensação, será que também consegue abdicar dela e entregar–se completamente àquilo que faz?

“Fazer uma coisa de cada vez”, foi assim que um Mestre Zen definiu o espírito da filosofia Zen.

Fazer uma coisa de cada vez significa estar nela por inteiro, concentrar nela toda a sua atenção.

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Todo o Génio é um Degenerado

Sendo certo que todo o génio é um degenerado (nem superior, nem inferior, porque há só degenerados de uma espécie, mau grado a absurda escapatória dos psiquiatras modern style), certíssimo é, sem dúvida, que entre os génios, os da inteligência assumem um relevo máximo de degeneração. Um chefe político, um grande general, são, no que génios, degenerados, porque são desvios do tipo normal e originais na sua acção e na sua individualidade. Mas são normais porque são homens de acção, porque vivem no meio da vida, e não se pode fazer isso sem uma certa adaptação a ela. O mais revolucionário dos génios políticos tem de se adpatar ao que quer destruir para o poder destruir. Tem de mergulhar na vida que quer substituir para poder agir sobre ela.
Não assim na esfera da inteligência e da emoção intelectualizada – na da filosofia e na da arte, digo. Sobre ser original, o artista, o pensador é um inadaptado às formas normais da vida, por isso que nem age no sentido da actividade normal (porque é original), nem age no que age, age vulgarmente (porque, em lugar de ter uma acção vulgar, orienta a sua vida sobretudo para a sensação e para a inteligência e não para a acção,

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Emoção e Poesia

Quem quer que seja de algum modo um poeta sabe muito bem quão mais fácil é escrever um bom poema (se os bons poemas se acham ao alcance do homem) a respeito de uma mulher que lhe interessa muito do que a respeito de uma mulher pela qual está profundamente apaixonado. A melhor espécie de poema de amor é, em geral, escrita a respeito de uma mulher abstracta. Uma grande emoção é por demais egoísta; absorve em si própria todo o sangue do espírito, e a congestão deixa as mãos demasiado frias para escrever. Três espécies de emoções produzem grande poesia – emoções fortes, porém rápidas, captadas para a arte tão logo passaram; emoções fortes e profundas ao serem lembradas muito tempo depois; e emoções falsas, isto é, emoções sentidas no intelecto. Não a insinceridade, mas sim, uma sinceridade traduzida, é a base de toda a arte.
O grande general que pretende ganhar uma batalha para o império do seu país e para a história do seu povo não deseja – não pode desejar ter muitos dos seus soldados assassinados (mortos). Contudo, uma vez que tenha penetrado na contemplação da sua estratégia, escolherá (sem um pensamento para os seus homens) o golpe melhor,

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As Janelas da Memória

A memória humana não é lida globalmente, como a memória dos computadores, mas por áreas específicas a que chamo de janelas. Através das janelas vemos, reagimos, interpretamos… Quantas vezes tentamos lembrar-nos de algo que não nos vem à ideia? Nesse caso, a janela permaneceu fechada ou inacessível.

A janela da memória é, portanto, um território de leitura num determinado momento existencial. Em cada janela pode haver centenas ou milhares de informações e experiências. O maior desafio de uma mulher, e do ser humano em geral, é abrir o máximo de janelas em cada situação. Se ela abre diversas janelas, poderá dar respostas inteligentes. Se as fecha, poderá dar respostas inseguras, medíocres, estúpidas, agressivas. Somos mais instintivos e animalescos quando fechamos as janelas, e mais racionais quando as abrimos.

O mundo dos sentimentos possui as chaves para abrir as janelas. O medo, a tensão, a angústia, o pânico, a raiva e a inveja podem fechá-las. A tranquilidade, a serenidade, o prazer e a afetividade podem abri-las. A emoção pode fazer os intelectuais reagirem como crianças agressivas e as pessoas simples reagirem como elegantes seres humanos. Sob um foco de tensão, como perdas e contrariedades, uma mulher serena pode ficar irreconhecível.

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A Origem do Medo

A condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo concreto e real. Surge sob diversas formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, temor, fobia, etc. Este tipo de medo psicológico é sempre algo que poderá acontecer e não algo que esteja a acontecer no momento. O leitor está aqui e agora, enquanto a sua mente se encontra no futuro. Este facto gera um hiato de ansiedade. Além disso, se o leitor se identificar com a sua mente e tiver perdido o contacto com o poder e a simplicidade do Agora, esse hiato de ansiedade acompanhá-lo-á constantemente.

A pessoa pode sempre lidar com o momento presente, mas não o consegue fazer com algo que é apenas uma projeção mental – não é possível lidar com o futuro.
E enquanto o leitor se identifica com a sua mente, o ego comanda a sua vida. Devido à natureza ilusória que lhe é característica e apesar dos mecanismos de defesa elaborados, o ego torna-se muito vulnerável e inseguro, vendo-se a si próprio constantemente sob ameaça. Este facto, a propósito, é o que acontece, mesmo que por fora o ego pareça muito confiante. Agora lembre-se de que uma emoção é a reação do corpo à mente.

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A Psicologia de Grupo

O indivíduo num grupo está sujeito, através da influência deste, ao que com frequência constitui uma profunda alteração na sua actividade mental. A sua submissão à emoção torna-se extraordinariamente intensificada, enquanto que a sua capacidade intelectual é acentuadamente reduzida, com ambos os processos evidentemente dirigindo-se para uma aproximação com os outros indivíduos do grupo; e esse resultado só pode ser alcançado pela remoção daquelas inibições aos instintos que são peculiares a cada indivíduo, e pela resignação deste àquelas expressões de inclinações que são especialmente suas. Aprendemos que essas consequências, amiúde importunas, são, até certo ponto pelo menos, evitadas por uma «organização» superior do grupo, mas isto não contradiz o fato fundamental da psicologia de grupo: as duas teses relativas à intensificação das emoções e à inibição do intelecto nos grupos primitivos.

Um Eu Forte e Maduro

Precisamos de conhecer os papéis do Eu, que representa a capacidade de escolha. Entre esses papéis, o de ser autor da própria história, um protetor da mente, um jardineiro do território da emoção, um plantador de janelas light na memória da pessoa amada.

Discutir, gritar, impor ideias, não significa nem de longe ter um Eu forte, mas sim fraco. Dizer o que vem à mente, dizer sempre a verdade, nem sempre é a expressão de um Eu maduro, mas sim de alguém que não tem autocontrolo. Um Eu forte e maduro aquieta a sua ansiedade, protege a pessoa amada, pede desculpas sem medo, aponta primeiro o dedo a si próprio antes de falar dos erros do outro, repensa a sua história, exige menos e dá-se mais; não tem a necessidade neurótica de mudar as pessoas ao seu redor.

Saber Falar às Multidões

Longos discursos, agitar de punhos, socos na mesa, e resoluções expressas com emoção mas desligadas das condições objectivas, não produzem acção de massas e podem provocar grande dano à organização e à luta que servimos.
(…) Há uma fase na vida de todo o reformador social em que ele troveja nas tribunas, principalmente para se livrar de informação mal digerida que se lhe acumulou na cabeça, uma tentativa para impressionar as multidões, em vez de iniciar uma exposição calma e simples de princípios e ideias, cuja verdade universal se evidencia pela experiência pessoal e estudo mais aprofundado.

A (Má-)Emoção Controlada Pela Razão

Há a ideia de que quando se concede à razão inteira liberdade ela destrói todas as emoções profundas. Esta opinião parece-me devida a uma concepção inteiramente errada da função da razão na vida humana. Não é objectivo da razão gerar emoções, embora possa ser parte da sua função descobrir os meios de impedir que tais emoções sejam um obstáculo ao bem-estar. Descobrir os meios de dminuir o ódio e a inveja é sem dúvida parte da função da psicologia racional. Mas é um erro supor que diminuindo essas paixões, diminuiremos ao mesmo tempo a intensidade das paixões que a razão não condena.
No amor apaixonado, na afeição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objectivo é a felicidade, a própria e a dos outros. Nada há de irracional nas paixões como paixões e muitas pessoas irracionais sentem sómente as paixões mais triviais. Ninguém deve recear que ao optar pela razão torne triste a vida.

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Sonhar é Preciso

Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.
Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação às dificuldades da vida. Mas precisamos de compreender que os sonhos não são desejos superficiais. Os sonhos são bússolas do coração, são projectos de vida. Os desejos não suportam o calor das dificuldades. Os sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós.

John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento o seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam a emoção e produzem um agradável romance com a vida.
Quem não vive um romance com a sua vida será um miserável no território da emoção, ainda que habite em mansões, tenha carros luxuosos, viaje em primeira classe nos aviões e seja aplaudido pelo mundo.

Precisamos de perseguir os nossos mais belos sonhos. Desistir é uma palavra que tem de ser eliminada do dicionário de quem sonha e deseja conquistar, ainda que nem todas as metas sejam atingidas.

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Os Supermercados

Os supermercados são os palácios dos pobres. Não são só os azarentos e os mal alojados, os que ao longo das gerações foram reduzindo os gastos da imaginação, que frequentam e, de certo modo, vivem o supermercado, as chamadas grandes superfícies. As grandes superfícies com a sua área iluminada e sempre em festa; a concentração dos prazeres correntes, como a alimentação e a imagem oferecida pelo cinema, satisfazem as pequenas ambições do quotidiano. Não há euforia mas há um sentimento de parentesco face às limitações de cada um. A chuva e o calor são poupados aos passeantes; a comida ligeira confina com a dieta dos adolescentes; há uma emoção própria que paira nas naves das grandes superfícies. São as catedrais da conveniência, dão a ilusão de que o sol quando nasce é para todos e que a cultura e a segurança estão ao alcance das pequenas bolsas. Não há polícia, há uma paz de transeunte que a cidade já não oferece.

O Desporto é a Inteligência Inútil

O sport é a inteligência inútil manifestada nos movimentos do corpo. O que o paradoxo alegra no contágio das almas, o sport aligeira na demonstração dos bonecos delas. A beleza existe, verdadeiramente, só nos altos pensamentos, nas grandes emoções, nas vontades conseguidas. No sport – ludo, jogo, brincadeira – o que existe é supérfluo, como o que o gato faz antes de comer o rato que lhe há-de escapar. Ninguém pensa a sério no resultado, e, enquanto dura o que desaparece, existe o que não dura. Há uma certa beleza nisso, como no dominó, e, quando o acaso proporciona o jogo acertado, a maravilha entesoura o corpo encostado do vencedor. Fica, no fim, e sempre virado para o inútil, o inconseguido do jogo. Pueri ludunt, como no primário do latim…

Ao sol brilham, no seu breve movimento de glória espúria, os corpos juvenis que envelhecerão, os trajectos que, com o existirem, deixaram já de existir. Entardece no que vemos, como no que vimos. A Grécia antiga não nos afaga senão intelectualmente. Ditosos os que naufragam no sacrifício da posse. São comuns e verdadeiros. O sol das arenas faz suar os gestos dos outros. Os poetas cantam-nos antes que desça todo o sol.

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Nenhuma Época Transmite a Outra a sua Sensibilidade

Nenhuma época transmite a outra a sua sensibilidade; transmite-lhe apenas a inteligência que teve dessa sensibilidade. Pela emoção somos nós; pela inteligência somos alheios. A inteligência dispersa-nos; por isso é através do que nos dispersa que nos sobrevivemos. Cada época entrega às seguintes apenas aquilo que não foi.

Um deus, no sentido pagão, isto é, verdadeiro, não é mais que a inteligência que um ente tem de si próprio, pois essa inteligência, que tem de si próprio, é a forma impessoal, e por isso ideal, do que é. Formando de nós um conceito intelectual, formamos um deus de nós próprios. Raros, porém, formam de si próprios um conceito intelectual, porque a inteligência é essencialmente objectiva. Mesmo entre os grandes génios são raros os que existiram para si próprios com plena objectividade.

Viver é pertencer a outrem. Morrer é pertencer a outrem. Viver e morrer são a mesma coisa. Mas viver é pertencer a outrem de fora, e morrer é pertencer a outrem de dentro. As duas coisas assemelham-se, mas a vida é o lado de fora da morte. Por isso a vida é a vida e a morte a morte, pois o lado de fora é sempre mais verdadeiro que o lado de dentro,

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A Verdadeira Religião é Individual e não Social

É possível que a religião da solidão seja de certa maneira superior à religião social e formalizada. O que é certo é que ela apareceu mais tarde no decurso da evolução. Além disso, os fundadores das religiões e seitas históricamente mais importantes têm sido todos, com excepção de Confúcio, solitários. Talvez seja verdade dizer-se que, quanto mais poderosa e original for uma mente, mais ela se inclinará para a religião da solidão, e menos ela será atraída no sentido da religião social ou impressionada pelas suas práticas. Pela sua própria superioridade a religião da solidão está condenada a ser a religião das minorias. Para a grande maioria dos homens e das mulheres a religião ainda significa, o que sempre significou, religião social formalizada, um assunto de rituais, observâncias mecânicas, emoção das massas. Perguntem a qualquer dessas pessoas o que é a verdadeira essência da religião, e eles responderão que ela consiste na devida observância de certas formalidades, na repetição de certas frases, na reunião em certos tempos e em certos lugares, da realização por meios apropriados de emoções comunais.

O Provincianismo Português (II)

Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria “provincianismo”. Como todas as definições simples esta, que é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação complexa. Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental — a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto, neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás,

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Falar com Coração

Não é possível dominares as palavras nem, por exemplo, uma qualquer audiência que tenhas à frente se não tiveres um total e absoluto conhecimento a teu próprio respeito, se não confiares em ti e se não tiveres como hábito dar voz aos teus sentidos. Vai sempre soar a falso. Não é possível agarrares uma plateia nem mexer com as emoções de quem te ouve se não te vulnerabilizares, se não te assumires como o ser humano que és e se tudo o que disseres já tiver sido dito por outros. Vais fazer figura de parvo. E não esperes nunca sensibilizar ou gerar identificação em alguém se não falares sobre ti mesmo, se não te expuseres ao erro e se não partilhares o segredo que tu próprio desvendaste para superar um qualquer problema. Vais ver as pessoas a bocejar. As pessoas precisam de saber que não são as únicas a ter problemas por resolver, que há mais gente em busca de si mesma, com crises existenciais e que errar é, afinal, absolutamente humano, assim como desvendar soluções para tudo. É isso que gera identificação, é isso que fortalece os laços entre as pessoas e é isso que te torna num bom comunicador.

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A Memória é Como o Ventre da Alma

Encerro também na memória os afectos da minha alma, não da maneira como os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o exige a força da memória.
Não é isto para admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é outra. Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar. Aqui, porém, o espírito é a memória. Efectivamente, quando confiamos a alguém qualquer negócio, para que se lhe grave na memóra, dizemos-lhe: «vê lá, grava-o bem no teu espírito». E quando nos esquecemos, exclamamos: «não o conservei no espírito», ou então: «escapou-se-me do espírito»; portanto, chamamos espírito à própria memória.
Sendo assim, porque será que, ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas, a alma contém a alegria e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com a alegria que em si tem e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui? Será porque não faz parte da alma? Quem se atreverá a afirmá-lo?
Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento,

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Aprender a Ser Feliz

É impossível exigir a estabilidade plena da energia psíquica, pois ela organiza-se, desorganiza-se (caos) e reorganiza-se continuamente. Não existem pessoas que sejam sempre calmas, alegres e serenas. Nem mesmo existem pessoas ansiosas, irritadas e incoerentes permanentemente. Ninguém é emocionalmente estático, a não ser que esteja morto. Devemos reagir e comportar-nos segundo determinado padrão para não sermos instáveis, mas este padrão reflectirá sempre uma emoção flutuante.

A pessoa mais tranquila perderá a paciência. A pessoa mais ansiosa terá momentos de calma. Só os computadores são rigorosamente estáveis. Por isso, eles são lógicos, programáveis e, portanto, de baixa complexidade. Nós, pelo contrário, somos tão complexos que a nossa disposição, humor e interesses mudam com frequência. Devemos estar preparados para enfrentar os problemas internos e externos. Devemos ter consciência de que os problemas nunca vão desaparecer nesta sinuosa e bela existência. Podemos evitar alguns, outros porém são imprevisíveis.

Mas os problemas existem para serem resolvidos e não para nos controlarem. Infelizmente, muitos são controlados por eles. A melhor maneira de ter dignidade diante das dificuldades e dos sofrimentos existenciais é extrair lições deles. Caso contrário, o sofrimento é inútil. Ser feliz, do ponto de vista da psicologia, não é ter uma vida perfeita,

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As Influências no Estado de Espírito

Agora estou disposto a fazer tudo, agora a nada fazer; o que me é um prazer neste momento em alguma outra vez me será um esforço. Acontecem em mim mil agitações desarrazoadas e acidentais. Ou o humor melancólico me domina, ou o colérico; e, com a sua autoridade pessoal, neste momento a tristeza predomina em mim, neste momento a alegria. Quando pego em livros, terei captado em determinada passagem qualidades excelentes e que terão tocado a minha alma; quando uma outra vez volto a deparar com ela, por mais que a vire e revire, por mais que a dobre e apalpe, é para mim uma massa desconhecida e informe.
Mesmo nos meus escritos nem sempre reencontro o sentido do meu pensamento anterior: não sei o que quis dizer, e amiúde me esfalfo corrigindo e dando-lhe um novo sentido, por haver perdido o primeiro, que valia mais. Não faço mais que ir e vir: o meu julgamento nem sempre caminha para a frente; ele flutua, vagueia, Como um barquinho frágil surpreendido no vasto mar por uma tempestade violenta (Catulo).
Muitas vezes (como habitualmente me advém fazer), tendo tomado para defender, por exercício e por diversão, uma opinião contrária à minha,

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