Textos sobre JuĂ­zo de Florbela Espanca

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Textos de juĂ­zo de Florbela Espanca. Leia este e outros textos de Florbela Espanca em Poetris.

Uma Mulher sem Areia Nenhuma

Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juĂ­zo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pĂ© dela e nĂŁo será com certeza ao pĂ© de mim… Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hĂŁo-de ser pequeninos…) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a prĂłpria deusa Minerva com todo o juĂ­zo que todos os deuses lhe deram.

Quer-te Muito a Tua Mulherzinha

Recebi ontem à noite o telegrama que mandaste da Foz. Desejo que tivesses encontrado tudo bem na nossa casinha. Espero com ansiedade a primeira cartinha tua que já cá devia estar. Estou a escrever-te sentada a uma janela com o papel em cima dum livro e o tinteiro no chão; é 1 hora e meia, a hora de ir até às galinhas a ver se já havia algum ovo.

Há quanto tempo isso foi! Escreve para cá só até ao dia 23 ou 24 porque dia 26 pela manhã partimos para Vila Viçosa. O carnaval é dia 8 e já vejo que para minha desgraça o vou passar no covil enjaulada como as feras perigosas. Pouca sorte a da pobre Bela! Não posso ainda hoje falar com o advogado nem amanhã que é domingo, de forma que só segunda-feira te poderei dizer qualquer coisa a esse respeito. Há só um comboio dia sim dia não para Lisboa de forma que não estranhes nem te inquietes por alguma pequena demora na correspondência.
AĂ­ vai um belo soneto que as saudades tuas me trouxeram ontem; sĂł quando estou triste sei fazer versos com jeito como esses. Provavelmente nĂŁo gostas…

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