Textos sobre Livros de Gustave Le Bon

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Textos de livros de Gustave Le Bon. Leia este e outros textos de Gustave Le Bon em Poetris.

A Crença só se Mantém pela Ritualização

Uma verdade racional é impessoal e os factos que a sustentam ficam estabelecidos para sempre. Sendo, ao contrårio, pessoais e baseadas em concepçÔes sentimentais ou místicas, as crenças são submetidas a todos os factores susceptíveis de impressionar a sensibilidade. Deveriam, portanto, ao que parece, modificar-se incessantemente.
As suas partes essenciais mantĂȘm-se, contudo, mas cumpre que sejam constantemente alentadas. Qualquer que seja a sua força no momento do seu triunfo, uma crença que nĂŁo Ă© continuamente defendida logo se desagrega. A histĂłria estĂĄ repleta de destroços de crenças que, por essa razĂŁo, tiveram apenas uma existĂȘncia efĂ©mera. A codificação das crenças em dogmas constitui um elemento de duração que nĂŁo poderia bastar. A escrita unicamente modera a acção destruidora do tempo.
Uma crença qualquer, religiosa, polĂ­tica, moral ou social mantĂ©m-se sobretudo pelo contĂĄgio mental e por sugestĂ”es repetidas. Imagens, estĂĄtuas, relĂ­quias, peregrinaçÔes, cerimĂŽnias, cantos, mĂșsica, prĂ©dicas, etc., sĂŁo os elementos necessĂĄrios desse contĂĄgio e dessas sugestĂ”es.
Confinado num deserto, privado de qualquer sĂ­mbolo, o crente mais convicto veria rapidamente a sua fĂ© declinar. Se, entretanto, anacoretas e missionĂĄrios a conservam, Ă© porque incessantemente relĂȘem os seus livros religiosos e, sobretudo, se sujeitam a uma multidĂŁo de ritos e de preces.

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A InfluĂȘncia das IlusĂ”es nas Nossas Vidas

Traçar o papel das ilusĂ”es na gĂ©nese das opiniĂ”es e das crenças seria refazer a histĂłria da humanidade. Da infĂąncia Ă  morte, a ilusĂŁo envolve-nos. SĂł vivemos por ela e sĂł ela desejamos. IlusĂ”es do amor, do Ăłdio, da ambição, da glĂłria, todas essas vĂĄrias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantĂȘm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusÔes intelectuais são relativamente raras; as ilusÔes afectivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusĂ”es fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao eterno abismo. NĂŁo lamentemos que tĂŁo raramente sejam submetidas Ă  anĂĄlise. A razĂŁo sĂł consegue dissolvĂȘ-las paralisando, ao mesmo tempo, importantes mĂłbeis de acção. Para agir, cumpre nĂŁo saber demasiado. A vida Ă© repleta de ilusĂ”es necessĂĄrias.
Os motivos para não querer multiplicam-se com as discussÔes das coisas do querer.

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A Maldade como Poderoso Elemento do Progresso Humano

Os sentimentos fixos e de forma constante qualificados de paixÔes constituem, também, possantes factores de opiniÔes, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixÔes contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente colectivas. A sua acção é, então, irresistível. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas diversas fases da história. As paixÔes podem excitar a nossa actividade, porém, alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniÔes, impedindo de ver as coisas como realmente são e de compreender a sua génese. Se nos livros de história são abundantes os erros, é porque, na maior parte dos casos, as paixÔes ditam a sua narrativa. Não se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado imparcialmente a Revolução.
O papel das paixĂ”es Ă©, como vemos, muito considerĂĄvel nas nossas opiniĂ”es e, por conseguinte, na gĂ©nese dos acontecimentos. NĂŁo sĂŁo, infelizmente, as mais recomendĂĄveis que tĂȘm exercido maior acção. Kant reconheceu a grande força social das piores paixĂ”es. A maldade Ă©, no seu juĂ­zo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invĂ©s de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruĂ­rem mutuamente,

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ContĂĄgio Mental

O contågio mental representa o elemento essencial da propagação das opiniÔes e das crenças. A sua força é, muitas vezes, bastante consideråvel para fazer agir o indivíduo contra os seus interesses mais evidentes. As inumeråveis narraçÔes de martírios, de suicídios, de mutilaçÔes, etc., determinados por contågio mental fornecem uma prova disso.
Todas as manifestaçÔes da vida psíquica podem ser contagiosas, mas são, especialmente, as emoçÔes que se propagam desse modo. As ideias contagiosas são sínteses de elementos afectivos.
Na vida comum, o contĂĄgio pode ser limitado pela acção inibidora da vontade, mas, se uma causa qualquer – violenta mudança de meio em tempo de revolução, excitaçÔes populares, etc. – vĂȘm paralisĂĄ-la, o contĂĄgio exercerĂĄ facilmente a sua influĂȘncia e poderĂĄ transformar seres pacĂ­ficos em ousados guerreiros, plĂĄcidos burgueses em terrĂ­veis sectĂĄrios. Sob a sua influĂȘncia, os mesmos indivĂ­duos passarĂŁo de um partido para outro e empregarĂŁo tanta energia em reprimir uma revolução quanto em fomentĂĄ-la.
O contĂĄgio mental nĂŁo se exerce somente pelo contacto direto dos indivĂ­duos. Os livros, os jornais, as notĂ­cias telegrĂĄficas, mesmo simples rumores, podem produzi-lo.
Quanto mais se multiplicam os meios de comunicação tanto mais se penetram e se contagiam. A cada dia estamos mais ligados àqueles que nos cercam.

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A InfluĂȘncia dos Livros e dos Jornais

Os jornais e os livros exercem no nascimento e na propagação das opiniĂ”es uma influĂȘncia imensa, conquanto inferior Ă  dos discursos. Os livros actuam muito menos que os jornais, pois a multidĂŁo nĂŁo os lĂȘ. Alguns foram, contudo, bastante poderosos pela sua influĂȘncia sugestiva para provocar a morte de milhares de homens. Tais sĂŁo as obras de Rousseau, verdadeira bĂ­blia dos chefes do Terror, ou A Cabana do Pai TomĂĄs, que contribuiu muito para a sanguinolenta guerra de secessĂŁo na AmĂ©rica do Norte. Outras obras como Robinson CrusĂłe e os romances de JĂșlio Verne exerceram grande influĂȘncia nas opiniĂ”es da juventude e determinaram muitas carreiras.
Essa força dos livros era, sobretudo, considerĂĄvel quando se lia pouco. A leitura da BĂ­blia no tempo de Cromwel criou na Inglaterra um nĂșmero avultado de fanĂĄticos. Sabe-se que na Ă©poca em que foi escrito Dom Quixote, os romances de cavalaria exerciam uma acção tĂŁo perniciosa em todos os cĂ©rebros que os soberanos espanhĂłis vedaram, finalmente, a venda desses livros.
Hoje, a influĂȘncia dos jornais Ă© muito superior Ă  força dos livros. SĂŁo em nĂșmero incalculĂĄvel as pessoas que tĂȘm unicamente a opiniĂŁo do jornal que elas lĂȘem.