Citação de

A InfluĂȘncia das IlusĂ”es nas Nossas Vidas

Traçar o papel das ilusĂ”es na gĂ©nese das opiniĂ”es e das crenças seria refazer a histĂłria da humanidade. Da infĂąncia Ă  morte, a ilusĂŁo envolve-nos. SĂł vivemos por ela e sĂł ela desejamos. IlusĂ”es do amor, do Ăłdio, da ambição, da glĂłria, todas essas vĂĄrias formas de uma felicidade incessantemente esperada, mantĂȘm a nossa actividade. Elas iludem-nos sobre os nossos sentimentos e sobre os sentimentos alheios, velando-nos a dureza do destino.
As ilusÔes intelectuais são relativamente raras; as ilusÔes afectivas são quotidianas. Crescem sempre porque persistimos em querer interpretar racionalmente sentimentos muitas vezes ainda envoltos nas trevas do inconsciente. A ilusão afectiva persuade, por vezes, que entes e coisas nos aprazem, quando, na realidade, nos são indiferentes. Faz também acreditar na perpetuidade de sentimentos que a evolução da nossa personalidade condena a desaparecer com a maior brevidade.
Todas essas ilusĂ”es fazem viver e aformoseiam a estrada que conduz ao eterno abismo. NĂŁo lamentemos que tĂŁo raramente sejam submetidas Ă  anĂĄlise. A razĂŁo sĂł consegue dissolvĂȘ-las paralisando, ao mesmo tempo, importantes mĂłbeis de acção. Para agir, cumpre nĂŁo saber demasiado. A vida Ă© repleta de ilusĂ”es necessĂĄrias.
Os motivos para nĂŁo querer multiplicam-se com as discussĂ”es das coisas do querer. Flutua-se entĂŁo na incoerĂȘncia e na hesitação. «Tudo ver e tudo compreender», escrevia Mme. de Stael, «é uma grande razĂŁo de incerteza». Uma inteligĂȘncia que possui o poder atribuĂ­do aos deuses de abranger, num golpe de vista, o presente e o futuro, a nada mais se interessaria e os seus mĂłbeis de acção ficariam paralisados para sempre.
Assim considerada, a ilusĂŁo aparece como o verdadeiro sustentĂĄculo da existĂȘncia dos indivĂ­duos e dos povos, o Ășnico com que se possa sempre contar. Os livros de filosofia esquecem-no por vezes.